Despedida

Antes do show em Fortaleza no sábado (06), guitarrista Andreas Kisser detalhou expectativas e projeções para últimas apresentações do Sepultura, um dos principais grupos de metal do mundo

Por: Ana Beatriz Caldas, do Diário do Nordeste

Imagem: Formação atual do Sepultura: Derrick Freen (vocal), Paulo Jr. (baixo), Andreas Kisser (guitarra) e Greyson Nekrutman (bateria). Foto: Edu Defferrari/Divulgação

“Uma decisão tomada com muita tranquilidade”. É assim que o guitarrista Andreas Kisser define o fim do Sepultura, um dos principais nomes do metal no Brasil e no mundo, anunciado em dezembro do ano passado.

A turnê de despedida da banda, intitulada “Celebrating Life Through Death”, chega a Fortaleza neste sábado (06), na Praça Verde do Dragão do Mar, e promete reunir diversas fases do grupo, dos primeiros grandes sucessos, como canções de Beneath the Remains (1989) e Arise (1991), a sucessos de Quadra (2020), disco de inéditas mais recente do grupo.

O show na capital cearense marca o início da segunda etapa da turnê, que começou em março, em Belo Horizonte (MG), cidade natal do Sepultura. Segundo o guitarrista Andreas Kisser, a série de shows que celebram as quatro décadas da banda deve se estender até 2026, passando por várias cidades brasileiras e diversos países na América do Norte e Europa. Ao fim da turnê, a banda deve lançar um disco ao vivo com 40 músicas gravadas em 40 cidades.

“Foram dois anos organizando e conversando sobre possibilidades e tudo”, conta Andreas, em entrevista ao Verso, sobre a decisão de encerrar o grupo no auge. “E a participação dos fãs tem sido fantástica. São 40 anos de história, depois de uma pandemia, quando lançamos o Quadra, que é um disco muito forte, que mantém a gente até hoje muito ativo, fazendo turnês pelo mundo”, explica.

O artista explica que a intenção da banda é revisitar lugares importantes na trajetória do Sepultura e, se possível, tocar em lugares novos – mas ressalta que não vê o momento com angústia nem tem pressa para concluir o processo de encerramento. “Eu acho que a intenção é curtir esse momento e celebrar, num momento de agradecimento a todos os fãs que mantiveram essa banda forte por 40 anos”, pontua.

Apesar do clima de celebração que norteia a turnê, o anúncio do fim também trouxe desafios e reacendeu polêmicas antigas que rodeiam a história da banda. Em fevereiro deste ano, pouco antes do início dos shows, o ex-baterista do grupo, Eloy Casagrande, anunciou a saída do Sepultura – pouco tempo depois, foi divulgado que ele era o novo baterista da banda norte-americana Slipknot.

“Greyson entrou com muito profissionalismo, muita vontade, pegou um repertório de mais de 20 músicas em poucos dias. Agora ele está trazendo mais ideias, mais possibilidades, e  representando toda a carreira do Sepultura”, destaca o guitarrista.

Outro assunto que ressurgiu quando a banda anunciou a turnê de despedida foi um possível retorno dos irmãos Max e Iggor Cavalera, fundadores e ex-membros do Sepultura. Após anos de relações aparentemente conturbadas entre a dupla e o Sepultura, Max declarou que gostaria de participar da turnê de despedida da banda, contanto que isso ocorresse “da maneira certa”.

Apesar de os músicos afirmarem não terem conversado diretamente sobre o assunto, Kisser afirma que a ideia é convidar, nos últimos shows da turnê, todos os ex-membros para participações em shows – mas que não seria uma reunião oficial. O convite, inclusive, se estenderia a outros ex-integrantes, como Jean Dolabella, Jairo Guedes, Roy Mayorga, Jean Patton e o próprio Eloy Casagrande.

 

Turnê
 Turnê “Celebrating Life Through Death” irá até 2026
Foto: Bruno Zuppone/Divulgação

 

“Obviamente, incluindo os irmãos. Nada a ver com reunião, nada a ver turnê de volta. É uma celebração dos 40 anos do Sepultura com quem fez parte da banda, nada mais que isso”, destaca Andreas Kisser. “E o Max falar ou não falar, para a gente também não muda nada. Já deve ser a 15ª vez que ele falou isso, né?”, brinca o guitarrista, em meio a risos.

Para Andreas Kisser, a participação dos ex-membros na turnê seria uma oportunidade de “fazer uma festa sem ficar com picuinha” e de “deixar as coisas de lado e celebrar a música”. “Acho que fã não está interessado em ficar vendo bate-boca, e quem está certo, quem está errado, porque isso também não existe, né? Cada um vai ver de um jeito”, afirma.

LIGAÇÃO COM O NORDESTE

Ao longo das décadas, o Sepultura sempre teve uma conexão especial com o público nordestino, que abraçou a banda desde os primeiros anos de trabalho. O próprio Andreas Kisser, que entrou no grupo três anos após a formação original, em 1987, fez seu primeiro show como integrante em Caruaru (PE), lugar que se tornou especial para o guitarrista.

“Foi um começo maravilhoso e eu tenho muito carinho pelo Nordeste”, relembra Kisser. “O metal está em todo lugar, né? Independente da música popular ou da música regional, o heavy metal tem o seu lugar”, completa.

Em Fortaleza, a banda volta a se apresentar em um palco já conhecido e querido, no Dragão do Mar, onde já se apresentou no Festival Ponto.CE. A última vez que o grupo se apresentou na Cidade foi em julho do ano passado.

“É uma cidade que é importante na nossa história, como o Nordeste em geral. Fora a influência da música nordestina, que mudou a música do Sepultura”, destaca Andreas, citando especialmente a música do pernambucano Chico Science e instrumentos percussivos, como o berimbau.

Sobre o show no Dragão do Mar – que deve ser o último da banda, pelo menos por um tempo –, Andreas reforça o convite: “acho que, em Fortaleza, vai ser um lance especial ter Sepultura e Angra na mesma noite, no mesmo palco, né? Acho que é uma oportunidade imperdível. Para quem não não estava pensando em ir, pode ir”, brinca.

PLANOS PARA O FUTURO

Questionado sobre a real tônica do fim da banda – se é uma pausa ou um ponto final –, Kisser é categórico em afirmar que nada é definitivo e que todos do Sepultura estão abertos ao que o futuro os reserva. Ele não descarta, inclusive, que novos shows em cidades já visitadas sejam adicionados à turnê, caso haja demanda, e que alguma canção original pode surgir desse momento.

Mas a médio prazo, o caminho, de fato, será outro. “A gente vai ter um pouco mais de tempo para se dedicar aos projetos paralelos e abrir outros espaços para as novas ideias. A gente é jovem ainda e está se sentindo super bem, motivado para começar as coisas ainda do zero”, pontua.

Entre os planos do guitarrista estão seguir se dedicando a projetos pessoais, como uma série de videoaulas para repassar o conhecimento que adquiriu ao longo dos anos. A história e o legado da banda, porém, não devem se distanciar desse caminho. O que foi construído com o Sepultura, afirma, permanece.

“Música sempre, né? Eu acho que é a minha intenção, a nossa intenção não é parar o Sepultura para, sei lá, abrir uma loja e vender camiseta”, ri. “É ficar na música, desenvolver outras ideias, outras parcerias e evoluir. Continuar evoluindo, estudando”, conclui.

Serviço
“Celebrating Life Through Death” em Fortaleza – Show de despedida do Sepultura | Abertura: Angra
Quando: 6 de julho
Onde: Praça Verde do Dragão do Mar
Horário: Abertura dos portões às 18h30
Ingressos: Valores variam entre R$ 199 (pista, meia-entrada) a R$ 500 (front stage, inteira) | Vendas no site Bilheteria Digital
*Todos os ingressos têm taxa de conveniência de 10%