Crítica/Lançamento

Depois de mais de duas décadas, grupo de Seattle finalmente lança um álbum que está entre os melhores de sua carreira

Por: João Perassolo, da Folha de S. Paulo

Imagem: Os membros da banda Pearl Jam, que lançam o disco ‘Dark Matter’ – Danny Clinch/Divulgação

DARK MATTER

Finalmente. Depois de lançar só discos irregulares ou desprezíveis desde “Riot Act”, de 2002, o Pearl Jam entrega um álbum excelente. “Dark Matter”, que sai nesta sexta-feira, é um reencontro da banda com o som direto e sem enjoos que fez do grupo um dos gigantes do rock contemporâneo.

O 12° álbum do quinteto de Seattle poderia ter sido lançado em meados dos anos 1990, quando eles produziram seus melhores discos, porque só uma das 11 músicas do novo trabalho não é muito boa, “Something Special”, uma balada chocha dedicada à filha do vocalista Eddie Vedder.

As outras dez músicas soam como se banda tivesse recuperado o tesão de tocar, deixando de lado o espírito moribundo no qual estava estacionada há mais de duas décadas. Prova disso é que, na apresentação do disco para convidados em Los Angeles há algumas semanas, o vocalista disse achar que “Dark Matter” era o melhor álbum da banda.

“Scared of Fear” e “React, Respond”, as enérgicas duas primeiras músicas, poderiam estar em “Vitalogy”, o terceiro disco do Pearl Jam, ou talvez até em “Vs.”, o potente trabalho anterior. Já a baladinha “Wreckage” não ficaria fora de contexto em qualquer álbum lançado a partir de “Yield”, de 1998 —as melodias da faixa e o típico jeito com que Eddie Vedder canta a deixam com cara de hit radiofônico.

Não há muita variação entre as músicas do novo álbum, de modo que quem gosta de rock direto e bem executado, como na faixa título e em “Running”, vai curtir o disco. Seus pouco menos de 50 minutos fluem como uma brisa.

O novo álbum está mais para uma celebração da vida. O Pearl Jam que ouvimos em “Dark Matter” não é a banda sofrida e profunda de “Ten”, o primeiro disco, de 1991, que catapultou a banda ao estrelato com hits como “Alive”, “Even Flow” e “Jeremy”, esta sobre o suicídio de um adolescente.

Na terça-feira (16), o disco foi tocado na íntegra em salas de cinema em dezenas de países, mas esta estratégia prejudicou o álbum. Na sessão no Cinemark do shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo, a qualidade do som era tão ruim que parecia que o arquivo de áudio original havia sido pirateado da internet —a separação estéreo era precária e os instrumentos não se distinguiam com clareza uns dos outros.

Foi um desserviço ao disco, mas talvez isso não tenha importado para o público. As pessoas conversavam sobre as músicas e comiam pipoca, sem formar uma comunhão de fãs que saíram de casa para ouvir uma banda da qual gostam muito num sistema de som que deveria ser melhor que o da minha sala.

“Dark Matter” é um disco para ser ouvido bem alto, em casa ou nos fones. Tocado ao vivo, deve ser um sonho.