Imagem: Mayos Augusto, em perfomance na cidade: lançamento do primeiro trabalho (Foto: Divulgação)
Ocular Jack é uma das grandes surpresas da cena independente de Mossoró. A banda, na verdade, é uma pessoa só. Mayos Augusto é o maestro de si mesmo, uma espécie de de “one man band”, como ele mesmo gosta de se definir. Mas, a potência se eleva ao cubo nos palcos, quando o indivíduo se espraia para um power trio entrosadíssimo.
A banda, que se recentemente foi destaque no festival Do Sol, chega com outra surpresa: o primeiro álbum, “Atrofia Humana”.
Mayos, que no trio assume as guitarras e voz, responde por todos os instrumentos das oito faixas.O disco foi lançado nesta sexta-feira (8) e já está disponível para audições via streaming. O BDD já ouvindo também este som que, às vezes lembra um rock com fortes distorções embebidas de punk e no pós-punk (“Contramão” e “O Que o Diabo Não Fez”), uso de samplers e um vocal poderoso na pegada do Ratos de Porão. Uma combinação indefinível, como Mayos frisa.
O idealizador da banda conversou com o BDD sobre o novo disco.
Como foi a produção do primeiro trabalho do Ocular Jack?
Olha só, eu sou o compositor das músicas. Entrei em contato com o produtor da Cosmos Studio, o Rafaum, para iniciar a gravação de oito músicas que eu havia reunido durante o período de pandemia (vale dizer que eu já havia gravado dois singles no mesmo estúdio, já constando nas plataformas desde 2022).

Fizemos a pré-produção desse álbum no início de 2023, em que eu toquei todos os instrumentos de todas as músicas em uma tarde, ficando o resultado para estudo técnico, além de preparar para produção. Por volta da metade deste ano, iniciamos a produção do álbum de forma definitiva, na qual entro mais uma vez no estúdio para tocar os instrumentos das músicas, assim como o vocal, no método take a take (gravei primeiro a bateria em cima de uma guia de guitarra, depois o baixo, em seguida a guitarra, ficando para o final o vocal). E assim foi a captação das faixas, ficando a mixagem e masterização para o Rafaum.
O disco foi lançado esta semana. Como você define o seu som?
Esse trabalho pode ser definido como um rock sem amarras, sem submissão a ideia de gênero musical único, se rendendo apenas à postura irreverente que o rock cru e sem frescuras pede.
Existe perspectiva de lançamento em formato físico, mesmo que seja em pequena tiragem, para divulgação e venda nos shows?
Sim, inclusive, o trabalho da produção foi concentrado nessa intenção de lançamento (também) em mídia física.
Como foi a ideia de formar a banda de uma pessoa só?
A Ocular Jack é uma banda que surgiu, por volta de 2021/2022 como exortação da minha cabeça inquietante, tanto para questões intimistas ligadas a experiências pessoais, assim como reflexões acerca de questões complexas do homem moderno e seu comportamento em sociedade, estando bastante presente nas músicas em um formato que eu diria “sem medo de dizer algumas coisas… “. E assim a banda se firma dentro da caverna de um compositor solitário, principalmente em um cenário completamente fora da caixa, que foi a pandemia.
Então, as oito músicas entram nesta pegada? Fale um pouco delas.
São oito faixas que se rendem a temáticas diferentes e texturas sonoras heterogêneas. Mas, uma coisa as aproxima no meio dessa salada sonora: o escárnio regurgitado nos peitos da decadência (atrofia!) do homem enquanto espécie ou sociedade em alguns aspectos que foram vulgarmente expostos, especialmente, nos últimos anos.
Depois de derramado muito suor e cozinhado ideias sorumbáticas diante de tanta seboseira humana vivenciada e avistada nos últimos anos – das conjunturas políticas porcas ao seu colega hipócrita e miserável da esquina -, eu me arrisquei na língua dos tupis na perspectiva de fortalecer algumas reflexões sobre o cinismo imbecil e redundante do homem “moderno”, em forma de rock cruamente desfigurado (sem submissão a estilo ou conceito único de gênero), sem desculpas ou arrodeios, mas naquele jeitinho que sangra o ouvido do sujeito cortês.
Com o disco lançado, quais os próximos passos agora?
Ampliar a divulgação do material, com produtos de venda (mídia física, utensílios, etc), produção audiovisual de alguma das músicas e, principalmente, com shows, onde a banda se adequa a uma formação de power trio para essas apresentações (eu assumo a guitarra e vocal, Mick bateria e José Marcos baixo). Além disso, eu já adianto para o Bolsa de Discos a pré-produção – como one man band mais uma vez, no mesmo estúdio – do que será o segundo álbum, com possível lançamento em 2024.
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