Sétima arte

Um trem chegando a uma estação é capaz de fazer com que nosso cérebro ouça o som dos trilhos, passos de uma multidão, o tilintar de um relógio, burburinhos de uma feira…

Por: Iuska Freire

Cinema tem tudo a ver com música. Mesmo quando o som não estava lá, o movimento das cenas preenchia o imaginário. Um trem chegando a uma estação é capaz de fazer com que nosso cérebro ouça o som dos trilhos, passos de uma multidão, o tilintar de um relógio, burburinhos de uma feira… O som também existe no silêncio. Cinema é movimento e música é movimento infinito.

As primeiras trilhas que apareceram no cinema, ainda na época do cinema mudo, trouxeram o som do piano. Desse encontro maravilhoso, tendo como precursores os irmãos Lumiére, no final do século XIX, surgiram as primeiras exibições de cinema com trilha sonora e elas eram feitas ao vivo, com um pianista nos locais de exibição.

Nesse contexto, eu recordo uma cena bem conhecida do filme “O fabuloso destino de Amélie Poulain” (Jean-Pierre Jeunet, 2002), em que a personagem observa a expressão do público ao ver um filme. Eu fico imaginando, com olhos de Amélie, o encantamento que essa experiência dos irmãos Lumiére deve ter exercido entre os espectadores.

Imagem do filme dos irmãos Lumière (Reprodução/Revista Prosa, Verso e Arte)

A trilha sonora é fundamental nos filmes. Um bom suspense só funciona se formos surpreendidos pelo som que arrepia a espinha e os pelos do corpo, que assusta e traduz a sensação de medo e pavor. Como imaginar a cena do chuveiro, em Psicose (1960), de Alfred Hitchcock,  sem a trilha icônica composta por Bernard Herrmann? O compositor que fez parceria com Hitchcock também é responsável pela trilha de “Cidadão Kane” (Orson Welles, 1941).

O que seriam de romances dramáticos como “Titanic” (James Cameron, 1998) sem clássicos como “My heart will go one” que ficam gravados na memória? A voz de Celine Dion ficou mundialmente conhecida e virou um “chiclete” que retorna sempre que um novo fato é associado ao Titanic.

A música tem essa capacidade de nos transportar entre caminhos da memória e fazer emergir sentimentos e emoções. Pode parecer clichê, eu sei, mas juntos, música e cinema, tocam uma sinfonia que arrebata corações. E olha que eu nem falei sobre os musicais, sobre clássicos e outras produções mais recentes. Mas esse é só o início.

 

Dica de filme

Whiplash – Em busca da perfeição (EUA, 2014)

Este é um filme incrível e inquietante sobre a relação abusiva de um aluno de bateria e jazz e seu instrutor controverso. O longa é derivado de um curta e recebeu vários prêmios, entre eles o Oscar de melhor ator coadjuvante para J. K. Simmons, melhor montagem e melhor mixagem de som. Também foi indicado a melhor filme. Whiplash é arrebatador e um filme para quem ama música.