Kalyl Lamarck (baixo e vocal), Amilton Jr. (guitarra) e Daniel Araújo (bateria) estão de volta com o Monster Coyote? Um sinal foi dado no final do mês passado, quando os mossoroenses se apresentaram em Natal com a formação clássica do grupo que existe desde 2010, mas que desde 2017 estava parada. “Nos reunimos pra ensaiar ao longo do mês de junho e o show antes de tudo foi pra ver se a gente ainda estava afim. E acho que estamos! Então veremos…”, disse Amilton, nesta entrevista exclusiva ao BDD.
Os três integrantes participam da entrevista, concedida no início do mês ao jornalista William Robson, e falam das perspectiva do retorno e o ímpeto criativo dos caras. “Certamente a vontade de criar é imediata. Aliás, já há algo novo e posso dizer que está incrível. Os próximos passos são registrar tudo adequadamente e preparar para soltar no mundo”, adiantou Kalyl. O Monster Coyote está instigado. “Queremos reunir a banda o máximo que for possível, compor músicas novas e tocar por aí”, descatou Daniel.
Nesta entrevista, os caras ainda falam da cena musical potiguar e dão nomes aos bois das bandas mossoroenses que mais se destacam.
Fale um pouco da história do Monster Coyote?
Amilton: O Monster surgiu com outro nome em 2010. Apesar de ter sido formada em Natal, todo mundo era de Mossoró, então sempre fizemos questão de dizer que a banda era mossoroense. A formação inicial era um quarteto, mas que logo virou um trio e assim permanece até hoje. No início som ainda era um stoner com um pé no southern rock. Em 2011 a banda assumiu o nome Monster Coyote e já deu uma guinada para um som mais pesado, quando incorporou elementos do sludge, que com o tempo acabou virando a principal característica da banda. Fizemos muitos shows importantes nos 7 anos de atividade (2010-2017), turnês nacionais e internacionais, inclusive algumas com bandas gringas, e lançamos 4 discos. Em 2017, após algumas mudanças de formação, a banda deu uma parada. E 7 anos depois, aqui estamos!
Kalyl: Permita-me acrescentar algumas linhas ao relato de Amilton, que considero bem interessantes. Em primeiro lugar, Amilton (guitarrista) e eu estudamos juntos no ensino médio e sempre tivemos um gosto musical muito parecido. Por causa do vestibular, mudamos-nos para a capital ao mesmo tempo e, na universidade, formamos algumas bandas. Em Natal, Daniel (baterista) foi uma das primeiras pessoas que conhecemos, e sempre estivemos no mesmo círculo de amigos. Portanto, já nos conhecemos há 15 ou 20 anos. Foi nesse período que descobrimos um estilo de música que era raro no Brasil até então, ouvindo bandas de southern metal como Maylene and The Sons of Disaster e Down. Queríamos uma banda com uma sonoridade parecida; não sabíamos que se chamava “stoner” ou “sludge”, nós chamávamos de rock’n’roll pesado. Esse acaso, nos fez ouvir de muitas pessoas que fomos uma das primeiras bandas brasileiras a lançar material nesse estilo, lá em 2010, e mais segmentado em 2012, com “The Howling”. Realmente, nos deu um reconhecimento que nunca imaginávamos para uma banda mossoroense.
Outra faceta que perguntam-nos, é sobre o nome da banda e o interesse pelo sobrenatural. Sou neto de rezadeira e passei minha infância na zona rural, em um lugar chamado Sítio Sucupira, na divisa entre Limoeiro do Norte, CE, e Apodi, RN. A região era de difícil acesso, e eu passava meses com meus avós, sem energia elétrica, telefones ou vizinhos. Era uma forma de economizar dinheiro, pois eu era um custo alto para meus pais, que não tinham muitas condições na época. Morávamos em uma casa com minha avó, meu avô e uma tia. À noite, o ambiente era bastante tenebroso. O nome do roçado dos meus avós era Carrasco Grande, e a casa mais próxima ficava a uma légua de distância. Vivíamos em uma clareira no meio da caatinga, delimitada por uma cerca que separava a mata da área em que vivíamos. No centro desse cercado, havia uma casa de sítio, com uma porta de duas metades feita de madeira frágil, janelas do mesmo tipo, um alpendre em volta dela e, ao lado, um armazém muito velho, de pau a pique, tijolos de barro e piso de terra batida. No lado oposto, havia dois currais: um para criação de cabras e outro com uma dúzia de cabeças de gado. Não havia veículos, apenas bicicletas. À noite, os animais berravam como se algo estivesse dentro do curral atacando-os. Meu avô pegava sua espingarda e ia espantar o que quer que fosse, enquanto eu ficava com minhas avó e tia, ouvindo tudo a poucas dezenas de metros. Às vezes, queria ir com meu avô, mas não deixavam, pois diziam poder ser uma assombração, um lobisomem. Nos dias seguintes, não era incomum encontrar animais desaparecidos, e eu ia com meu avô buscá-los de carroça no meio da mata; ou suas carcaças parcialmente devoradas. Meu avô dizia que não era lobisomem, mas uma onça que ele estava tentando capturar há tempos. Não era raro ouvir a “onça” esturrando dentro da mata em muitas madrugadas.
Diversos relatos e ocorrências me aproximaram do misticismo em torno da licantropia. O nome da banda surge dessa inspiração; quando compúnhamos juntos, Amilton e eu lemos um conto sobre um suposto coiote que atacava os animais e pessoas de uma vila. Esse conto está presente na letra de “The Shepherd Who Saves The Wolf, Dooms His Sheep”.
No final do mês passado, vocês fizeram um show em Natal. Significa o retorno da banda?
Amilton: Nos reunimos pra ensaiar ao longo do mês de junho e o show antes de tudo foi pra ver se a gente ainda estava afim. E acho que estamos! Então veremos…
Daniel: Amilton e Kalyl comentaram comigo sobre o desejo de voltar com a banda e embora eu esteja morando em São Paulo atualmente, me animei muito com a ideia, então combinamos de fazer essa reunião no mês de junho que eu estaria em Natal. A princípio seria só pra tocar e ver o que rolava, viajei pra Mossoró, onde fizemos poucos ensaios mas deu uma liga boa, daí pra coroar esse reencontro depois de tantos anos, resolvemos fazer uma apresentação. Nossa ideia é reativar a banda dentro das nossas possibilidades, agendar datas e tocar no máximo de lugares possíveis.
Kalyl: Significa muito. Houve um hiato de sete anos, encerrado na sétima lua de 2024 (vide o calendário lunar), durante o qual tocamos sete músicas. O pacto foi refeito. O Monster adormeceu por cima de diversos projetos em desenvolvimento. Agora que o despertamos, estamos animados para retomar esses trabalhos, especialmente porque as dificuldades de antes ficaram para trás e adquirimos uma maturidade musical muito maior. Tenho grande confiança em Amilton e Daniel. Assim como uma cachaça envelhecida que foi esquecida por muito tempo, esses caras retornaram; e voltaram muito melhores.
E este retorno implica em algumas novidades?
Amilton: Temos alguns planos pra médio prazo, nada de imediato por enquanto. O que posso dizer é que ao longo desse tempo em que ficamos parados, cada um teve tempo e oportunidade de experienciar coisas diferentes e ter outras bandas, o que deverá trazer novas ideias para o som da banda. Foi o que vimos nos ensaios que tivemos.
Daniel: Nos poucos ensaios que fizemos, além de lembrar o repertório também colocamos algumas ideias que estavam guardadas em prática, temos o esqueleto de músicas novas prontas e o objetivo é produzir e gravar essas músicas mas sem uma previsão de tempo concreta, mas estamos muito animados pra fazer acontecer.
Kalyl: Certamente, como evidenciado nas respostas dos rapazes, a vontade de criar é imediata. Aliás, já há algo novo e posso dizer que está incrível. Os próximos passos são registrar tudo adequadamente e preparar para soltar no mundo. Falando em mundo, outra coisa que não imaginava que aconteceria é a quantidade considerável de convites para shows. Além de dezenas de cidades no Nordeste, há convites para o Sul, Sudeste, Centro-Oeste, além de países sul-americanos e europeus. Estamos organizando nossas agendas para podermos embarcar nessas turnês!
A formação permanece a mesma? E o som segue com a mesma pegada?
Amilton: A formação voltou a ser a “clássica”, digamos assim. Foi a formação que mais durou e rendeu frutos: os dois originais, Kalyl Lamarck (baixo/vocal), que saiu por um tempo e retornou agora, e Amilton Jr. (guitarra); e Daniel Araújo (bateria) que entrou na banda em 2013. O som vai continuar pesado, mas como falei anteriormente, devemos ter novas influências e elementos que fomos absorvendo ao longo dos últimos anos.
Daniel: A formação clássica da banda permanece a mesma com Kalyl (baixo e voz), Amilton (guitarra e voz) e Daniel (bateria). Quanto ao som, a ideia é continuar pesado e sempre com a cabeça aberta pro que surgir, a gente não tá muito preocupado em se prender em algo específico, desde que soe bem aos nossos ouvidos e seja sincero.
Kalyl: É uma formação única devido aos seus fortes contrastes. Embora possamos criar sons com acordes mais lentos, até mesmo sem tanta distorção, o vocal berrado é um trunfo que sempre traz visceralidade e peso. Vamos explorar melhor esse paradoxo, aproveitando as outras vozes da banda, além das possibilidades rítmicas que Daniel adquiriu durante sua estadia nas terras dos bandeirantes.
Como vocês têm notado a cena independente no RN? Tem ouvido algumas bandas?
Amilton: A música como um todo tem mudado muito nos últimos anos e muito rapidamente. Já não tem a mesma cara de quando paramos em 2017. No RN mesmo tivemos bandas que acabaram e muitas outras que surgiram nesse meio tempo, o que é natural. Os músicos se reinventam, dão outra roupagem para o som. Tem os que correm atrás do hype, tem os que fazem só o que gostam, e tá tudo certo. Acho que o importante é tentar manter a roda girando e gerar interesse do público. De bandas que tenho ouvido no RN, posso citar as mossoroenses Mess the Cage, a Unokkai (minha outra banda, rs), a Sangre o Sistema, Black Witch… Já de Natal, continuo com as clássicas Son of a Witch, Born to Freedom. Tem a Antiklan também que é mais recente e é bem legal.
Daniel: O RN sempre foi um celeiro de ótimos artistas e temos excelentes representantes na música, falando especificamente de rock/metal, minha visão é de que a cena não tem a mesma efervescência de 10/15 anos atrás (época que começamos), sempre surgiam novas bandas, novos festivais, shows todo final de semana e público ativo, mas mesmo assim segue vivo, com bandas ativas desde essa época e outras mais recentes que vão surgindo, mesmo com menos intensidade.
Kalyl: Torço por uma mudança. Não é o melhor momento para som autoral pesado em nossa Mossoró. Não vejo uma renovação de pessoas novas na cena, o que é preocupante. Novas bandas surgem, mas são as mesmas pessoas de antes.
Existe um conceito em ecologia chamado “viabilidade populacional”, que é a capacidade de uma espécie de se manter ao longo do tempo, considerando a relação de natalidade e mortalidade. Quando essa relação não garante a viabilidade populacional, mesmo com indivíduos ainda vivos, a espécie é considerada virtualmente extinta. Para mim, algo semelhante pode estar ocorrendo agora. Tenho dúvidas sobre a viabilidade populacional do rock e do metal autoral em nossa cidade. Será que está virtualmente extinto? Fica o apelo. Precisamos alcançar o público mais jovem, pré-universitário, fazê-los gostar de guitarras, baixos e baterias, e ensinar como tocar punk e metal.
Quais os projetos da banda a partir de agora?
Amilton: Primeiro é tentar reunir todos para ensaios! hahaha Quando rolar, a ideia é compor material novo e armar uns shows por aí. Nordeste, Sudeste, Sul estão na rota e seria lindo demais se rolasse também Norte e Centro-Oeste. Próximo ano já faz 10 anos do nosso disco mais importante, o “NECKBREAKER”, e a gente quer muito fazer algo legal pra comemorar. Quem sabe uma tour mundial?!(risos)
Daniel: Reunir a banda o máximo que for possível, compor músicas novas e tocar por aí! Além disso, nosso último disco lançado, o “NECKBREAKER” (ouça acima) vai completar 10 anos em 2025, a gente pretende comemorar esse lançamento de uma forma especial.
Kalyl: Criar o álbum de sludge metal mais pesado da história humana.