Discão

Discoteca obrigatória para quem prefere ouvir beleza técnica instrumental associada à criatividade e espontaneidade vocal. Osborne consegue isso, lançando um álbum que marcou 96

Por: William Robson, editor

“Se Deus tivesse um nome, qual seria? E você o chamaria assim, se o encarasse em toda sua glória? O que você perguntaria se tivesse só uma pergunta? Sim, sim. Deus é ótimo. Sim, sim. Deus é bom”. Esse é apenas um trecho da música “One of Us” (“Um de Nós”) que virou sensação nas rádios do país inteiro nos anos 90. Inclusive de Mossoró

O álbum “Relish”, de 1996

Muitos mossaroenses ouviram a voz suave e sensual de Joan Osborne, 61, embora não soubessem nada a respeito da artista americana. O álbum “Relish” que chegou ao mercado em 1996, não tem nada a ver com as incontáveis cantoras-solos dos Estados Unidos que iniciam projetos musicais em templos protestantes (cantando gospel, que fique bem claro) e deixam a religião mantendo o estilo e alterando a temática

Uma fila imensa vai beber no poço da soul music e faz um sucesso estarrecedor. Aí entra Whitney Houston, Carly Simon e outras que seguiram a mesma tendência. Joan Osborne está na contramão dessas artistas que pasteurizaram seu som. Elabora blues e rock com muita qualidade. Também pudera, suas músicas trazem estampadas boas influências vindas de Otis Redding e Janis Joplin – “mas. meu comportamento é muito diferente do dela”. disse.

BOB DYLAN

“Relish” é o seu “álbum de “estréia” com doze músicas. Ou melhor, o terceiro. Ela já havia gravado ao vivo dois discos independentes, mas ninguém deu muito crédito e era concentrado muito no universo americano. Todas as canções são ótimas e a produção impecável.  O disco ainda recebeu sete indicações para o prêmio Grammy, incluindo Gravação (“One of Us”), Album, Canção e Revelação.

O disco abre com “St. Teresa”,  musica que causou controvérsia religiosa assim como “One of Us” (aliás, Osborne gosta de mexer com a espiritualidade em suas canções). Mais na frente vem “Man in the Long Black Coat”, do grande Bob Dylan (ela chegou a gravar um disco só com músicas dele em 2017), que Osborne deu cara psicodélica. “Pensacola” é um blue janis-jopliano com linhas elegantes do baixo de Mark Egan e variações vocais que sensibilizam até as pedras.

“One of Us” e “Ladder” recebem utilização de samples “One…” contém trecho introdutório de “Airplane Ride” (Neil Hampton). Mas. foi excluída da coletânea noveleira “Quem é Você Internacional” (a música fez parte da trilha da novela), enquanto que a outra registra situações de “Mambo Sun” (Marc Bolan).

Além desses recursos, a mão certeira de Osborne também trouxe o virtuosismo de Eric Bazillan nas guitarras (basta sentir suas belas bases secas e abafadas na ótima “Crazy Baby”) e na parceria das composições de sete músicas (One of Us” – cla, de novo? – foi composta exclusivamente por ele).

“Relish”, então distribuido no Brasil pela PolyGram, é discoteca obrigatória para quem prefere ouvir beleza técnica instrumental associada à criatividade e espontaneidade vocal. Osborne consegue isso, lançando um álbum que marcou 96 e que serve de lição às veteranas soulgirls mecanizadas e as neófitas pretendentes. Os seis anos de profissionalismo da cantora até chegar neste disco foram mais que suficientes para desovar uma obra anos-luz a frente delas.