Tecnologia

Juntos, cantaram “Eu Tenho a Senha”, música que dá nome ao primeiro disco, lançado em 2021. Para recriar o Rei do Baião com inteligência artificial, a equipe de 17 pessoas da empresa usou 100 músicas e 80 minutos de gravação para mapear a voz do cantor

Por: Juliana Gonçalves, da Noize

Fotos: Wesley Allen/ Divulgação

Em menos de cinco anos, João Gomes lançou três discos que o consagraram como o principal expoente do forró e do piseiro no mainstream. No último final de semana, o cantor pernambucano de 21 anos esteve em São Paulo onde se apresentou em duas ocasiões: no sábado, 8/7, foi o headliner do festival “Tão Ser Tão”, no parque Ibirapuera, e no domingo, participou de uma ação especial do Ifood, o “Arraial Estrelado”, no Jockey Club, onde dividiu o palco com o holograma de Luiz Gonzaga, a sua grande referência.

Juntos, cantaram “Eu Tenho a Senha”, música que dá nome ao primeiro disco, lançado em 2021. Para recriar o Rei do Baião com inteligência artificial, a equipe de 17 pessoas da empresa usou 100 músicas e 80 minutos de gravação para mapear a voz do cantor, além de 60 fotografias que permitiram o desenvolvimento das expressões faciais. A princípio, a estreia do dueto seria na festa de São João em Caruaru, realizada em 25 de junho com público de mais de 100 mil pessoas, mas a tecnologia não ficou pronta a tempo.

“A gente faz as coisas pra se divertir. Tudo o que vem da tecnologia me dá um pouco de receio, mas acho que se torna algo divertido, principalmente para honrar o legado de alguém que veio antes da gente, e que apresentou a nossa música pro sul do país. Só agradeço a Deus por cantar com Gonzagão – e com muito orgulho!”, comenta João Gomes.

Falecido em 1989, Gonzaga, junto de outros nomes, como Belchior, é inspiração máxima para o astro do piseiro. O impacto do projeto ficou claro no ensaio: “É claro que a gente não vai ter a mesma emoção, como se fosse real, mas na primeira vez que passaram o vídeo, eu falei: ‘rapaz, ficou perfeito’”.

Questionado se ele liberaria os direitos para ser recriado por I.A, Gomes conta que não pretende ter um avatar digital tão cedo. “Acho que não, mas toda homenagem é bem vinda. Um monte de gente já canta parecido comigo, e eu acho massa, me divirto. A gente vai deixar as águas rolarem e o tempo passar, só ele vai dizer se o meu trabalho será digno de uma homenagem”, pontua.

Inclusive, os tributos são comuns no repertório dos shows do cantor. Além de cantar hits autorais, que se popularizam pelas redes sociais – “Dengo” e “Meu pedaço de pecado”–, ele faz reverência aos ídolos, então é comum ouvir “Qui Nem Jiló”, de Gonzaga”, ou “Morena Tropicana”, de Alceu Valença, na voz grave do jovem cantor.

Apresentar os ícones da música nordestina ao público, que talvez não conheça os gigantes do século XX, é uma oportunidade única: “Cantar um artista antigo é uma forma de mantê-lo vivo na música. Vale a pena quando a gente canta uma música que não é nossa, na intenção de apresentar uma boa música, por mais que algumas pessoas não gostem do gênero”.