O movimento Jovem Guarda, surgido no Brasil a partir da segunda metade dos anos 60, era repleto de versões nacionais para músicas estrangeiras. “O Ritmo da Chuva”, de Demetrius, uma versão de “Rhythm of the Rain”, The Cascades; “Calhambeque”, Roberto Carlos, versão de “Road Hog”, de John D. Loudermilk; “Mar de Rosas”, The Fevers, versão de “Rose Garden”, Lynn Anderson; “Vem me Ajudar”, The Fevers, versão de “Get me Some Help”, The Square Set.
Há, inclusive, três bandas da Jovem Guarda cujos maiores sucessos são versões: The Fevers, Renato & seus Blue Caps e Golden Boys, o que não é segredo para ninguém. Não precisa ser um Rodrigo Faour para saber disso. Mas, o que muitos desconhecem, é que as canções infantis que marcaram os anos 80 também são versões de sucessos estrangeiros.
Nos início dos anos 80, o então presidente da gravadora CBS Brasil, Tomás Muños, esteve na Espanha, sua terra natal, onde ficou espantado com o sucesso da dupla Enrique y Ana, que cantava músicas para crianças. Ali ele percebeu que estava diante de uma tendência, que a música infantil era o próximo filão do mercado fonográfico.
Ao retornar ao Brasil, Muñoz correu para implantar a tendência no Brasil. Cláudio Condé, diretor da CBS, também foi acionado para a missão. De prima ele telefonou para o compositor Edgar Poças anunciado o projeto e pedindo algumas músicas, prometendo mundos e fundos caso o projeto vingasse.
Poças, que é pai da cantora Céu, fez uma seleção com 52 músicas, a maioria versões de canções da própria dupla Enrique y Ana e de outros artistas europeus que estavam embarcando nessa mesma onda. Assim, “El Pato Cantor” se transformou em “O Pato Cantor”; “El Baile de los Pajaritos”, em “Baile dos Passarinhos” (passarinho quer dançar, o rabicho balançar…); “Superfantastico” virou “Superfantástico”; “Its Not Easy”, “É Tão Lindo”; “La Gallina Papanatas”, “A Galinha Magricela”; e também são versões: “Se Enamora”, “Ai meu Nariz”, “Ursinho Pimpão”, entre outras, ou seja, quase tudo.
Todo mundo ganhou muito dinheiro com o sucesso da banda, menos o compositor Edgar Poças, que demonstra enorme mágoa quando trata do assunto. Sua decepção foi descrita numa música que ele compôs para o Dominó, grupo infanto-juvenil da mesma época: “Tô P… da Vida!”, que, pra variar, também é uma versão, como quase todas as canções da banda, também feitas por Edgar Poças.