Crítica/Disco

O disco está nos aplicativos desde 27 de junho, o show vai para as ruas e o ouvinte antenado com a história dos Titãs tem a sensação de que essa gravação sem brilho é somente o pretexto para mais uma turnê da banda

Por: Mauro Ferreira, do G1

Título: Microfonado

Artista: Titãs

Edição: Midas Music

Cotação: ★ ★ 1/2 (Regular)

 É preciso ter extremada devoção aos Titãs para detectar algum sentido em Microfonado, álbum que, embora abra mão do rótulo acústico na capa e no marketing, é a rigor o quarto título sem eletricidade da banda atualmente reduzida a um trio formado por Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto.

Capa do novo disco dos Titãs, que requenta sucessos da banda

Sob produção musical orquestrada por Rick Bonadio (criador da série Microfonado) com Sergio Fouad, sem amplificadores e alto-falantes, o trio recicla nove músicas – quatro dos áureos tempos da banda paulistana e cinco do recente álbum de inéditas Olho furta-cor (2022) – com convidados heterogêneos como Ney Matogrosso, Preta Gil, Lenine, Major RD, Bruna Magalhães e Cys Mendes.

O álbum Microfonado soa como anticlímax após turnê apoteótica, Titãs – Encontro (2023), que arrastou multidões pelo Brasil, reiterando a consagração e a força da obra da formação clássica do grupo aglutinado em fins de 1981 e efetivamente em cena desde 1982.

Gravado em abril em estúdio da cidade de São Paulo (SP), o disco gera show que sai em turnê pelo Brasil ao longo deste ano de 2024. Ou seja, se existe um sentido no álbum ao vivo, é o de originar mais um show, pois falta viço às nove gravações, antecedidas por falas do grupo sobre as nove músicas.

Na sequência, Ney Matogrosso entra em cena para dividir com o grupo o canto opaco de Apocalipse só (Sergio Britto e Tony Bellotto, 2022), rock tribal de inspiração indígena.

Apocalipse só é música do já mencionado álbum Olho furta-cor, de cujo repertório o trio também revive a canção Como é bom ser simples (Branco Mello, Bento Mello e Hugo Possolo, 2022) – veículo para Branco Mello e Preta Gil celebrarem as respectivas vitórias contra o câncer – e a balada roqueira Um mundo (Sergio Britto e Tony Bellotto, 2022), regravada com fluência e com a adesão vocal de Cys Mendes, cantora de Rondônia, projetada como vocalista da banda potiguar Plutão Já Foi Planeta e convidada pelos Titãs para ser uma das intérpretes da ópera-rock Doze flores amarelas (2018).

E por falar em balada, o álbum Microfonado dá segunda chance a uma das melhores músicas do álbum Sacos plásticos (2009), disco sem pulso dos Titãs, produzido pelo mesmo Rick Bonadio que idealizou o Microfonado da banda. Trata-se de Porque eu sei que é amor (Sérgio Britto e Paulo Miklos, 2009), balada ora revivida pelo trio com a cantora paraense paraense Bruna Magalhães.

Se Cabeça dinossauro (Arnaldo Antunes, Branco Mello e Paulo Miklos, 1986) bate como simulacro do espírito punk do homônimo álbum de 1986, em gravação com o rapper Major RD que mostra que “os bons meninos de hoje eram os rebeldes de outra estação”, a crítica mordaz de A melhor banda de todos os tempos da última semana (Branco Mello e Sérgio Britto, 2001) ainda faz sentido em 2024, 23 anos após a gravação original.

Por fim, nem a presença de Lenine em Raul (Sérgio Britto, 2022) dilui a sensação de que esse baião hardcore tem mais a ver com a banda Raimundos do que com Raul Seixas (1945 – 1989), o homenageado da música.

Enfim, o disco Microfonado está nos aplicativos desde 27 de junho, o show vai para as ruas e o ouvinte antenado com a história dos Titãs tem a sensação de que essa gravação sem brilho é somente o pretexto para mais uma turnê da banda.