Crítica/Disco

O grupo, formado em outubro de 2023 por Rudrigo, André Luiz, Sidley Gurgel e Kleber Sant faz um passeio nostálgico/moderno/pesado no estilo com apuração sonora moderna e timbres sujos, mas bem definidos

Por: William Robson, editor

Disco: Crise Mundial

Banda: Crise

Gravadora: Cosmos Art Studio

Ainda é possível surgirem rebeldes punk com uma causa nos dias de hoje? A banda mossoroense Crise enfrenta este desafio e desova o álbum de estreia “Crise Mundial” para afirmar que sim.  O grupo, formado em outubro de 2023 por Rudrigo, André Luiz, Sidley Gurgel e Kleber Sant faz um passeio nostálgico/moderno/pesado no estilo com apuração sonora moderna e timbres sujos, mas bem definidos.

O disco, com dez faixas, disponibilizado nas plataformas de áudio esta semana (também deve ganhar uma versão física em breve) abre com “Noção”, um punk padrão de três acordes e com versos pegajosos. “Sem noção, Vacilão/Compra carro a prestação/Zomba de desempregado/Classe média do Caralho”. O vocalista Rudrigo impõe um vocal forte, que parece chutar a porta em sua revolta contra-hegemônica.  A bateria de Sidley Gurgel é segura, alternando pedais duplos e isso incrementa o punk para além de sua simplicidade instrumental característica que todos conhecem.

Há momentos em que o Camisa de Vênus é evocado, como na faixa “Sem Anistia”, uma clara mensagem de que os caras não perdoam os ataques nas sedes dos poderes da República. “Jão sem Pé de Feijão” questiona o papel do trabalho e do proletário; “Tudo Passará”, a mais longa do álbum com dois minutos e 38 segundos tem produção cuidadosa, com samples e um timbre da guitarra de Kleber Sant que abre com distorção discreta para quebrar o pau mais adiante. É a mais palatável do álbum para o público de ouvidos ortodoxos.

Aliás, efeitos e samples dão a tônica neste trabalho da Crise.  “Nazionismo” é tensa, com baixo marcante, e trabalha com novas variações não observadas até aqui no disco. A banda levanta a temática palestina. “Não quero morrer, mas não tenho opção”, protestam todos em momento uníssono.

Vale mencionar o trabalho da Cosmos Art Studio, do produtor Rafaum Costa, que captou a mensagem da banda, funcionando como uma espécie de quinto integrante. O punk desfilado pela Crise consegue oferecer caminhos vastos, sem ser enfadonho.  Um pouco do espírito insurgente da banda (como eles mesmos se definem) está carimbada na música “Punk Mossoró”. O álbum fecha da melhor forma, com pancadaria em estado bruto: “Covardes Estéreis”.

Em diversos momentos, percebe-se  as fontes bebidas pelos integrantes. Uma mistura que vai na essência dos Ramones (lógico!), mas que traz elementos de tendências que se desdobraram, como o grunge, o pop punk, o alternativo e até pitadas de metal. Mistureba boa que gerou um disco divertido.