Crítica/Lançamento

“Small Changes” não atinge os mesmos níveis de imaginação e risco que atingiu em álbuns como “Love & Hate” (16) ou   “Kiwanuka” , ninguém pode duvidar que atinge um conjunto unitário muito sólido que lhe confere outro valor

Por: Don Disturbios, do Mondo Sonoro

Gravadora — Universal Music
Gênero — Soul

COTAÇÃO:★★★☆☆ (BOM)

Michael Kiwanuka é um daqueles músicos cujo som é totalmente reconhecível à primeira vista. Um fato muito difícil de conseguir, mas também pode ser um fardo pesado que o mantém ancorado. Aderir aos parâmetros estabelecidos, que são o que todos esperam de você e que, no fundo, você sabe de antemão que vai oferecê-los novamente com pequenas variações que são mais pequenas nuances do que mudanças substanciais. Por isso não é de estranhar que a dupla de produtores formada por Danger Mouse e Inflo tenha mais uma vez se encarregado de dar ao álbum aquele verniz tão característico da sua sonoridade. Aquele que atualiza a alma dos anos setenta à la Curtis Mayfield, mas muito mais temperado e com uma clareza niquelada sobre a qual paira a voz de Kiwanuka sedosa, hipnótica e mais cativante do que nunca.

Portanto, “Small Changes” é um álbum de Michael Kiwanuka em todos os sentidos, embora deva ser dito que falta uma coisa. E até agora o britânico sempre nos deu canções memoráveis, daquelas cujas melodias permaneciam persistentemente instaladas na memória. Músicas como “Cod Little Heart”, “Love & Hate” ou “You Ain’t The Problem” ajudaram a criar um setlist tão vencedor quanto obrigatório em cada um dos seus concertos.

Pequenas mudançasPor outro lado, este álbum, apesar de nos oferecer aquelas ‘pequenas alterações’ referidas no título, carece de um tema que possa ser comparado com os mencionados. A que mais se aproxima é “The Rest Of Me”, que cativa com aquele início peculiar marcado pelo seu violão, mas que depois varia para uma música reconhecível dentro do estilo Kiwanuka, sem mais delongas. O “Desfile Flutuante” inicial também não convence totalmente porque é apresentado logo no início com aqueles refrões característicos que fazem dele um lugar comum ao qual o autor já nos levou algumas vezes antes. Algo semelhante acontece com a faixa-título do álbum. É um mid-tempo tenro que te envolve de forma aveludada, com um solo de guitarra elegante e sustentado, mas carece de punch melódico para atingir um nível mais alto.

Talvez as duas partes de “Lowdown” sejam o momento mais satisfatório do álbum. Também o mais psicodélico com aquele evidente sabor de Pink Floyd que parece homenagear David Gilmour em sua segunda metade. E o resto não ajuda a salvar aquela sensação de mais do mesmo que acaba te dominando, apesar de você mesmo. Basta deixar-se envolver pelo excelente “Live For Your Love” para se apaixonar por dois fatos incontestáveis: Que Kiwanuka sabe lidar muito bem com o fator mais romântico da sua música e que os arranjos, sempre primorosos, têm fez dele um artista previsível. Você sabe o que vai encontrar.

Apesar de tudo, “Small Changes” é um bom álbum. Um que não guarda surpresas, claro, mas que contém um nível altíssimo ao longo de suas onze músicas e que mostra Michael Kiwanuka, de 37 anos, com dois filhos aos seus cuidados, e que se mudou da cosmopolita Londres para a costa sul inglesa em busca da tranquilidade e equilíbrio que se refletem no álbum. E, embora seja verdade que este tímido “Small Changes” não atinge os mesmos níveis de imaginação e risco que atingiu em álbuns como “Love & Hate” (16) ou   “Kiwanuka” , ninguém pode duvidar que atinge um conjunto unitário muito sólido que lhe confere outro valor. Nem melhor nem pior, apenas diferente. Outra coisa é que a fórmula pode acabar se ele não avançar com o quinto álbum da carreira. Mas isso é algo que veremos no futuro porque no momento ainda é agradável.