Turnê

Dono dos megahits “Down under”, “Who can it be now?”, “Overkill” e “It’s a mistake”, que embalavam reggae e new wave com sabor australiano na voz de Colin Hay e no saxofone de Greg Ham, o grupo encerrou as atividades em 1985, depois de lançar seu terceiro LP, “Two hearts”

Por: Silvio Essinger, de O Globo

É impossível para qualquer pessoa que ouvisse rádio com alguma frequência no começo dos anos 1980 ter escapado do grupo Men at Work. Dono dos megahits “Down under”, “Who can it be now?”, “Overkill” e “It’s a mistake”, que embalavam reggae e new wave com sabor australiano na voz de Colin Hay e no saxofone de Greg Ham, o grupo encerrou as atividades em 1985, depois de lançar seu terceiro LP, “Two hearts” — bem no momento em que ficou evidente que o sucesso avassalador não se repetiria.

Mas o Brasil jamais os esqueceu. Um Men at Work apenas com Hay dos integrantes originais chega ao país este mês para uma pequena turnê que passa por Rio de Janeiro (no próximo sábado, no Qualistage), Curitiba (20, no Live Curitiba) e São Paulo (21, no Vibra). Em entrevista por Zoom, o cantor e ator de 70 anos se recordou de uma história que mostra bem como os brasileiros foram importantes para ele e para o grupo.

— Uma noite, no início de 1996, eu estava casa de Greg Ham e ele me propôs: “Vamos pegar a estrada, vamos fazer uma turnê!”. Perguntei: “Como Men at Work?” E ele: “Sim, como Men at Work.” Eu disse o.k., e fui adiante: “Bem, para onde você quer ir?” E ele: “Não sei, não sei…” Então ficamos ali sentados por mais algum tempo, até que o telefone tocou — conta. — Ele atendeu e depois disse “Hum, é um cara querendo saber se topamos fazer uma turnê pelo Brasil”. Não demorou para que concordássemos em ir.

Otimista, Colin Hay resolveu carregar com a banda um engenheiro de som, para registrar aqueles shows — que bem brasileiramente abriam com uma batucada. O resultado foi “Brazil”, um disco ao vivo que solidificou a presença do grupo no país.

De certa forma, ele sabia bem o que esperar já que poucos anos antes, em 1991, tinha sido atração do Rock in Rio 2, no Maracanã, com a sua Colin Hay Band.

— Foi uma época muito estranha para mim, devo admitir. O disco “Wayfaring sons” tinha sido lançado, e a música “Into my life” tinha feito sucesso em apenas um país: o Brasil. — diz. — E aí um dia me perguntam: “Você quer tocar no Rock in Rio?” Era uma chance que eu tinha de mostrar que a música poderia funcionar, mesmo não tendo acontecido nada com o disco nos Estados Unidos. Afinal, “Into my life” entrou até em trilha de novela no Brasil! (em “Rainha da Sucata”)

Depois do festival, a banda voltou para Melbourne, e Hay ficou em Los Angeles à espera do que ia acontecer. Pouco tempo depois, acabou dispensado pela gravadora MCA:

— E foi assim que eu comecei a fazer meus shows solo! — relembra o músico, com bom humor.

Um nome defasado

 

Por não ter todos os integrantes originais, o cantor diz não considerar nenhuma das voltas do Men at Work como “reencontros” — nem as que fez entre 1996 e 2002 com Greg Ham (que morreu em 2012, na Austrália, de ataque cardíaco), nem a atual ou tampouco a que fez em 2019, para uma turnê na Europa.

— Só fiz essa turnê europeia porque o promotor disse que seria muito mais fácil vender o meu show se fosse como Men at Work. Fiquei curioso para ver que tipo de público eu iria ter com a banda depois de todos esses anos. Quantas pessoas viriam? — pergunta-se. — Acabou sendo muito bom. Não foi exatamente um grande número de pessoas, mas elas estavam muito animadas e no fim das contas foi uma ótima experiência.

Hoje, no Men at Work, estão presentes a mulher de Hay, Cecilia Noël, nos vocais, e a saxofonista de ascendência guatemalteca Sheila Gonzalez. O que deixa o nome do grupo (Homens Trabalhando) um tanto quanto defasado.

— Então, sim, é uma combinação. Agora que você vê homens e mulheres trabalhando! — concorda o cantor, para quem o show, inevitavelmente, terá um “forte elemento nostálgico”. — Mas nestes últimos 35 anos, desde que fui chutado pela MCA, eu andei gravando discos e feito shows solo. É uma forma muito pessoal de atuar porque sou só eu, lá em cima do palco, e o público.