Lançamento

Como diz Nei Lopes em texto sobre o trabalho, o som do disco que se apresenta não é nem ritual, com músicas sagradas, tampouco de canções de entretenimento

Por: Pérola Mathias, do Poro Aberto

Quinta é dia de Oxóssi e foi o dia que o Agudavi do Jêje escolheu para lançar seu disco de estreia. Comandado por Luizinho do Jêje e gravado ao vivo no terreiro de Bogum, em Salvador, o álbum reúne 14 percussionistas além do mestre. E ainda conta com convidados fundamentais, como Carlinhos 7 Cordas, com seu violão, e Gilberto Gil, que canta e improvisa no single que anunciou o álbum, Viola de Cabaça.

Como diz Nei Lopes em texto sobre o trabalho, o som do disco que se apresenta não é nem ritual, com músicas sagradas, tampouco de canções de entretenimento. É um trabalho complexo, que começa, se desenvolve e se materializa dentro de um dos terreiros mais antigos da Bahia. Tem raízes nas águas fundas do Atlântico e o que o nomeia é rota e tradição: Aguidavi, “nome dado à vareta retirada do pé de Araçá e que toca os três atabaques do candomblé cultuado no jêje-mahim”; Jêje, “é como os africanos que vieram do reino do Daomé, atual Benim, eram chamado”.

As faixas que contam com cordas, seja a do violão de cabaça ou do violão de Carlinhos, acabam se estruturando em torno deste elemento. Todo o naipe percursivo conta com atabaques, agogôs, pandeiros, caxixis, berimbaus e instrumentos construídos pelos próprios ogans que se combinam com bateria eletrônica e pedais de efeito. Assinam a produção Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Sylvio Fraga. A direção musical e arranjos são de Luizinho, Tiago, Kainã e Lucas Maciel.

Ao surgir no disco, Gilberto Gil reforça o papel que sempre desempenhou na música brasileira, de unir sua imagem mais do que pop aos conhecimentos sagrados e profundos da cultura e da arte de matriz africana. O artista soma e singulariza ainda mais o trabalho original.

E há, ainda, outro nome de destaque na parceria de composição do grupo: Peu Meurray, que assina com Luizinho a composição de 3 das 7 faixas do disco. Para quem não identifica, Peu já tocou e gravou com todas as grandes estrelas da música nacional e internacional como Marisa Monte, Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Saul Barbosa, Simone Moreno, Pepeu Gomes, Daniela Mercury etc., além de seus trabalhos autorais, como o Tambores de Pneu. Nem Cardoso, co-autor de “Xirê”, é criador do samba Kissukila das Palmeiras, que reúne músicos do Engenho Velho da Federação, bairro onde se localiza o Terreiro do Bogum. Ele também é um dos responsáveis pelas pesquisas do Aguidavi do Jêje.

Esse texto é apenas um abre-alas, para anunciar a chegada do trabalho, que merece ainda muita atenção e outros textos que o assimilem e o desdobrem.

O Aguidavi do Jêje é Kainã do Jêje (filho de mestre) percussionista de Caetano Veloso, Orkestra Rumpilezz e Ivete Sangalo; Tiago Nunes, que toca com a Orkestra Rumpilezz e Bel Marques; Ícaro Sá, da Orkestra Rumpilezz e BaianaSystem; Raysson Lima, que toca com Carlinhos Brown e Ivete Sangalo; Lucas Maciel, da Orkestra Rumpilezz e Baco Exu; Nem Cardoso, que participou da Timbalada e integra a Orquestra Afrosinfônica; Alan Teles, Danilo JesusDanilo T’challaEnzo XablinhaGabriel Santana; Jadson XablaJeferson Chagas; Kaique MelloLídio AlvesNegokiri Paulinho Music.