Preta Gil deixa imorredoura marca de alegria na música brasileira ao sair de cena aos 50 anos, a menos de um mês de completar 51 anos, após longa batalha contra o câncer de intestino diagnosticado no início de 2023. A morte da artista, nos Estados Unidos, enluta o Brasil.
Preta Maria Gadelha Gil Moreira (8 de agosto de 1974 – 20 de julho de 2025) nunca escondeu que era uma pessoa de festa. Esse temperamento festivo, assumidamente exibicionista, transpareceu na discografia da artista carioca. Tanto que Preta fez literalmente o Carnaval com o Bloco da Preta, show que foi para as ruas e virou atração concorrida na folia do Rio de Janeiro (RJ) a partir de 2009.
Antes de ser cantora, Preta Gil trabalhou nos bastidores do mercado musical. O início foi como estagiária na agência de publicidade DM9, de Nizan Guanaes, Preta trabalhou na produção de clipes como funcionária e sócia da empresa Dueto, de Monique Gardenberg.
O fato de ter se tornado cantora somente fortaleceu o caráter empreendedor de Preta Gil. A artista também virou empresária de sucesso e esse êxito ajudou a alavancar a carreira construída pela artista na música sem se escorar na obra do pai, Gilberto Gil, gigante da MPB.
Se alguém famoso avalizou a carreira musical de Preta Gil, foi a cantora e compositora Ana Carolina, que deu a ótima música Sinais de fogo (2003) – parceria de Ana com Antonio Villeroy – para o primeiro álbum de Preta, o já mencionado Prêt-à porter, famoso tanto por essa canção aliciante quanto pela capa em que Preta posou nua.
No segundo álbum, Preta, editado em 2005, a artista deu sequência à determinação de procurar a própria turma na música brasileira, se cercando de instrumentistas e compositores da própria geração como Betão Aguiar, Davi Moraes – autor da música Medida do amor – e Pedro Baby.
O álbum Preta repercutiu menos do que o antecessor. Mas Preta Gil virou o jogo a partir de 2007, quando estreou o show Noite preta em uma pequena casa na zona sul do Rio de Janeiro (RJ). O boca-a-boca entre anônimos e famosos, como Lulu Santos, admirador declarado do show, fez com que Noite Preta crescesse na cena carioca com aura hype a ponto de o show fixar residência na boate gay The Week.
Nasceu ali publicamente a vocação de Preta Gil para ser musa da comunidade LGBTQIA+. Foi na boate que a cantora gravou o show Noite preta em outubro de 2009 para lançar, em agosto de 2010, o álbum e DVD Noite preta ao vivo, terceiro título da discografia da artista. Amiga fiel, Ana Carolina forneceu o hit do disco, Stereo, música dançante composta com o parceiro Antonio Villeroy.
Àquela altura, Preta Gil já tinha feito o próprio nome na música brasileira. Tanto que o pai Gilberto Gil participou com o neto Francisco Gil, filho de Preta, da gravação da canção Drão (1982), composta por Gil para a ex-mulher Sandra Gadelha, mãe de Preta.
Em 2012, Preta lançou o quarto álbum, Sou como sou, lançando mais uma música de Ana Carolina, Batom, parceria da compositora com Chiara Civello e Diana Tejera.
No disco Todas as cores, Preta Gil cantou repertório inédito composto nos tons da diversidade. Grito de afirmação dos guetos, espécie de desacato das minorias aos haters e ratos da web, Vá se benzer (Leonardo Reis, Deco Simões, Emerson Taquari e Sergio Rocha) foi a música que juntou Preta com a madrinha Gal Costa (1945 – 2022).
O samba Decote ((Pablo Bispo, Yuri Drummmond e Rodrigo Gorky), cantado por Preta com Pabllo Vittar e gravado com o toque do cavaquinho de Dudu Nobre, também se destacou no álbum e reiterou que o canto de Preta Gil será sempre sinônimo de alegria, diversidade e festa na música brasileira.
