Assim como em outros gêneros musicais, o rock progressivo pode facilmente descambar para algo negativamente brega, seja por sua parte musical (que pode ser prepotente sem ter consistência) ou por suas letras (que podem soar artificiais e forçadas). A própria performance musical de algumas bandas do gênero tende a ser um pouco sofrida, em estúdio e ao vivo.
Depois do fim de 1983 da banda Bacamarte não só foge desses defeitos do gênero como atinge um grande ápice criativo, e pode tranquilamente ser considerado um dos melhores álbuns de rock progressivo de todos os tempos.
Mario Neto demonstra ser um grande compositor, guitarrista e violonista, e a voz de Jane Duboc é um complemento perfeito à sonoridade do grupo. Este, por sua vez, conta também com Marcus Moura, Delto Simas, Marco Veríssimo e Sergio Villarim, que também assinam composições, e o percussionista Mr. Paul.
O disco alterna entre composições instrumentais e cantadas; as cantadas, logicamente, com muitas passagens instrumentais. A voz de Jane Duboc soa como um anjo do apocalipse que aparece de vez em quando para nos repassar alguma mensagem, enquanto a banda executa o próprio apocalipse em si com direito a todo o turbilhão caótico que este representa, perpassando todas as emoções humanas.
O discurso musical geral pode até não ser o mais perfeito de todos. Há faixas dispensáveis, como a curta Caño e Depois do fim – esta, uma tentativa de apoteose final que acaba não vingando. Entretanto, é tudo muito bonito e muito bem executado!
Bacamarte, Depois do fim, um patrimônio do progressivo mundial! Ouça, desfrute, reflita, repasse: