Um novo movimento intitulado “Death 2 Spotify” (“Morte ao Spotify”, em tradução livre) vem ganhando força nos Estados Unidos e reacendendo o debate sobre o impacto do modelo de streaming na indústria musical contemporânea. O nome provocativo é também o título de uma série de palestras realizadas em Oakland, na Califórnia, que reuniu músicos independentes, produtores e ativistas culturais em torno de uma pergunta central: quem realmente se beneficia da forma como consumimos música hoje?
De acordo com reportagem do The Guardian, os encontros — realizados na biblioteca de Bathers — contaram com representantes da rádio KEXP, das gravadoras independentes Cherub Dream e Dandy Boy Records, além dos coletivos de DJs No Bias e Amor Digital. A repercussão foi imediata: artistas e produtores de países como Espanha e Índia já demonstraram interesse em replicar o evento e fortalecer uma rede global de resistência ao modelo centralizado e corporativo do streaming.
Entre as alternativas discutidas, plataformas como o Bandcamp foram apontadas como formas mais justas e transparentes de distribuição musical, permitindo que artistas mantenham maior controle sobre suas obras e recebam uma parcela mais significativa da receita.
O movimento surge no rastro das discussões provocadas pelo livro Mood Machine, da jornalista Liz Pelly, que critica duramente o Spotify por transformar ouvintes em “consumidores passivos” e pagar valores ínfimos aos artistas. A polêmica se intensificou após o cofundador da empresa, Daniel Ek, investir em uma companhia de tecnologia militar, o que gerou forte reação da comunidade musical. Bandas como Massive Attack, King Gizzard & the Lizard Wizard, Deerhoof e Hotline TNT chegaram a retirar seus catálogos da plataforma em protesto.
Apesar do tom contundente, os organizadores do “Death 2 Spotify” afirmam que o objetivo não é destruir o serviço, mas provocar reflexão sobre o modelo atual e seus impactos sociais e culturais.
“A ideia é pensar de forma coletiva sobre como ouvimos música e o que realmente estamos apoiando quando clicamos em ‘play’”, explica Manasa Karthikeyan, uma das fundadoras do projeto.
Para ela e outros participantes, o movimento pode marcar o início de uma nova revolução sonora — uma transformação que devolva à música seu valor artístico e comunitário, diante de um sistema cada vez mais moldado por algoritmos e interesses corporativos.