Dança

“Vigil Torporosa” é um trabalho em processo que propõe uma linguagem híbrida, unindo dança, performance autobiográfica, teatro documental e acessibilidade como parte da dramaturgia

Por: Redação

Após duas intensas semanas em residência artística em Paris, o artista mineiro René Loui, radicado no Rio Grande do Norte e cofundador do Coletivo CIDA, realiza a Mostra de Processo “Vigil Torporosa – As danças que não dancei para minha mãe” com leitura performativa de fragmentos do roteiro. O compartilhamento acontece na próxima sexta-feira, 22 de agosto, às 18h no Teatro Jesiel Figueiredo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
“Vigil Torporosa” é um trabalho em processo que propõe uma linguagem híbrida, unindo dança, performance autobiográfica, teatro documental e acessibilidade como parte da dramaturgia. Mais do que ferramentas técnicas, recursos como LIBRAS, legendas e audiodescrição são incorporados à obra como elementos poéticos e políticos, ampliando sua sensibilidade e alcance. Trata-se de um luto partilhado – uma experiência íntima transformada em criação coletiva.
Segundo René Loui, a concepção original previa a colaboração com um único artista interlocutor, um franco-brasileiro que atuaria como crítico dramatúrgico. No entanto, a proposta evoluiu ao longo da residência. “Estava preparado desde o início para os atravessamentos que a cidade pudesse oferecer. Por imprevistos na agenda do interlocutor inicial, reconfigurei essa participação. Tive a honra de ser atravessado, nesse período, pela artista mineira Priscila Patta, de Belo Horizonte, idealizadora da Rede Sola de Dança, cuja atuação se aproxima muito da proposta do Coletivo CIDA. Nosso reencontro se deu porque ela também estava em Paris, contemplada pelo mesmo edital da FUNARTE. Nossas datas coincidiram e, assim, participamos mutuamente das residências. As trocas com Priscila foram decisivas para os rumos que o processo passou a tomar.”
Além desse encontro, René destaca o impacto de vivências inesperadas. “A residência também foi atravessada por experiências não previstas: encontros com artistas locais de diferentes áreas – literatura, performance, e até práticas não artísticas, mas profundamente inspiradoras. Conhecer o circuito cultural de Paris e dialogar com essas pessoas ampliou os horizontes da pesquisa. Certos espaços e experiências que eu jamais imaginaria incluíram-se no processo, transformando-se em matéria viva para ‘Vigil Torporosa’.”
De volta ao Brasil, René realiza nesta sexta-feira uma mostra de processo, com leitura de fragmentos do roteiro seguida de bate-papo, voltada principalmente aos estudantes do curso de Licenciatura em Dança da UFRN. O momento será de partilha dos fragmentos da residência em Paris e do roteiro coreográfico em seu estado atual. Haverá espaço para devolutivas espontâneas de artistas, docentes e críticos de dança e artes, que devem contribuir para os próximos passos de desenvolvimento do processo criativo.
“Este momento não é ainda a estreia, mas o encerramento de uma primeira grande fase de criação. Pretendo dar continuidade ao processo, etapa por etapa, buscando novos recursos e editais que permitam um aprofundamento constante. Estou muito feliz com os frutos desta etapa inicial, realizada por meio do Edital Temporada Cultural Brasil-França da FUNARTE. Que este seja apenas o primeiro capítulo de uma trajetória mais longa”, destaca René.
Para o produtor Arthur Moura, a residência foi marcada pela escuta e pela abertura às transformações. “Essa experiência nos ensinou, na prática, o valor de estarmos abertos ao inesperado. A ausência de um interlocutor inicialmente previsto abriu espaço para colaborações que talvez não acontecessem de outra forma. O encontro com Priscila Patta e com artistas locais de Paris trouxe novas perspectivas e ajudou a amadurecer a obra.”
“Mesmo com o tempo curto, conseguimos construir um ambiente fértil de pesquisa e interlocução, onde as ideias circularam livremente e se transformaram. É essa energia que queremos levar para as próximas fases do projeto”, pontua Arthur.
Uma nova mostra de processo pública e aberta ao grande público será anunciada em breve, marcando uma abertura mais ampla do projeto. A estreia oficial de “Vigil Torporosa – As danças que não dancei para minha mãe” está prevista para novembro de 2025, em Natal, com circulação nacional prevista para o primeiro semestre de 2026.
A residência integra o Programa Funarte Brasil Conexões Internacionais e faz parte das atividades do Ano Cultural Brasil-França 2025, com apoio da Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cultura do Brasil.