Entrevista

Este ano o Mada celebra 26 anos de existência se tornando um dos principais festivais brasileiros. O BOLSA DE DISCOS conversou com o idealizador do Mada, Jomardo Jomas, que contou um pouco da história do evento, dos perrengues, da adaptação aos novos públicos, das atrações deste ano e das novidades da edição 2024

Por: William Robson, editor

Imagem: O produtor Jomardo Jomas, idealizador do Mada (Foto:@vitolivr_)

O festival Mada (Música Alimento da Alma) está prestes a acontecer.  Nos dia 18 e 19 de outubro, diversas atrações estarão no estádio Arena das Dunas, contando com mais de 20 nomes locais e nacionais durante os dois dias.

Este ano o Mada celebra 26 anos de existência se tornando um dos principais festivais brasileiros. O BOLSA DE DISCOS conversou com o idealizador do Mada, Jomardo Jomas, que contou um pouco da história do evento, dos perrengues, da adaptação aos novos públicos, das atrações deste anos e das novidades da edição 2024, que também será transmitida pela TV Globo. O BDD também vai acompanhar esta grande festa.

 

BOLSA DE DISCOS – O Mada entra no calendário dos grandes festivais. Sâo 26 anos de existência. O que mudou desde  daquele comecinho na Ribeira em relação a hoje.

JOMARDO JOMAS – Por coincidência, tenho conversado muito sobre isso.  Quando começamos em 98, era um período analógico, sem internet, sem rede social, o Orkut veio depois, então você imagina as mudanças rápidas que ocorreram nestes 26 anos de festival. Não tinha como ser diferente o Mada também mudar. Começamos de uma maneira, crescemos, vamos tendo acesso a outras ferramentas, o público também muda, e a gente vai se adaptando. Algo que percebo no Mada hoje, não falo nem entre a gente que já é velho (eu e você, William, estevimos no Mada na primeira edição (risos)), mas atualmente o público é totalmente renovado. Para mim, é o maior ganho do festival, que não envelheceu enquanto festival e continua dialogando com as novas gerações.

 

E como o festival foi se adaptando?

Na verdade, eu nunca pensei em fazer uma segunda edição do Mada. Fizemos aquela primeira, na loucura, mas, terminou que saiu a segunda edição mais louca ainda, quando sequer tínhamos gerador.  Lembro que, no primeiro dia, segundo show, os transformadores da Ribeira estouraram porque a gente ligava direto nos postes com a autorização da Cosern.  Mas, nem sabia que existia gerador… Lembro que eram 33 shows e no primeiro dia estavam agendadas 11 bandas. Como a energia acabou no segundo show, tive que alocar todos os shows pendentes para os dois últimos dias.  Foi uma loucura. Imagine, o que deveria ser 11 bandas, passou a ter 16 num palco 8×6. Este era o espírito do Mada.

 

Claro que serviu de aprendizado também para as edições seguintes, né?

Isso. A gente vai aprimorando. O evento foi crescendo e ganhando nova pegada. A gente continua com o espaço para o artista potiguar, que hoje em dia já não existe mais esta diferença entre o local, o regional e o nacional. O artista potiguar é um artista nacional.  Temos a Luísa [da banda Luísa e os Alquimistas], com reconhecimento nacional, Camarones, Valéria [Oliveira], isso prova que são nomes nacionais. Com a internet e as plataformas de música, tudo isso mudou.  Mas, mantemos nossa pegada indie do início…

 

Porém, se profissionalizou mais.

Claro, cresceu, mas com a ideia do começo que tentamos seguir até hoje.

Marina e Fernanda Abreu, em show no Mada 2023 (Divulgação)

 

Lembro do encontro antológico da Fernanda Abreu com a Marina, no Mada de 2023 [veja a crítica no BDD]. E notei também a semelhança na produção do festival com outros de grande porte, como o Lollapalooza, por exemplo. Há um intercâmbio dos produtores do Mada com estes demais eventos congêneres?

Não diria que existe um intercâmbio, mas um caminho natural que buscamos em fazer uma entrega nos padrões destes festivais maiores. Merecemos isso também. O que percebemos é o seguinte: praticamente os festivais que ocorrem no Sudeste, 20% a 30% do público é do Nordeste. Vão por conta da programação, dos artistas gringos maiores, uma entrega interessante, ok.  Por que não fazer este público vir para o Rio Grande do Norte?  Trabalhamos neste sentido e começamos a fazer uma mídia direcionada aos Estados nordestinos. Hoje, 48% do público do Mada é de fora. O único Estado que não teve representante no ano passado foi o Acre. Paraíba, Ceará, Pernambuco e São Paulo são os Estados que mais enviam público para cá, fora o RN. Mas, tudo isso foi resultado de um trabalho que precisava ser feito.

 

Como o Mada foi adaptando o line-up ano a ano?

Temos uma programação muito elogiada, plural.  Tenho uma equipe muito competente, muito jovem antenado, com uma rede social muito ligada ao público. Foram as pessoas que deram o nome da nossa rede social, que virou até um case diante de um personagem que criamos no Twitter, que é a Madinha, que interage e até acorda de mau humor quando pedem demais determinada atração e se tornou uma relação muito interessante (risos).

 

Para este ano, o que esperar?

Esse ano tem sido desafiador em todo o mercado de eventos. O Rock In Rio, que esgotava ingressos três meses antes de acontecer, ainda tinha para alguns dias do evento. Lollapalooza idem.  Este ano, eu esperava ter mais patrocínios. Foi razoável, mas esperava mais. Não atrapalhou na montagem do line-up, que está perfeito. Por exemplo, Xande Canta Caetano só fez oito shows da turnê e o último será em Natal, no Mada. Nossa programação está bem dividida para diversos públicos. Quanto às novidades periféricas, o público terá de vir para aproveitar. Teremos muitas coisas interessantes.

 

Dá para adiantar alguma coisa?

Teremos um quarto palco no lounge, somente com DJs potiguares. Vai ter música em todos os espaços do festival.

 

E o rock no Mada?

Vamos ter Pitty, Fresno, mas tem algo legal nisso. Houve um tempo em que os festivais focavam muito no rock, como o Abril Pro Rock, Porão do Rock… Há o momento em que o gênero está em alta, depois baixa. No Brasil, esta garotada foi pega em boa parte pelo rap, com Emicida, Racionais… Mas, já vejo um movimento de recuperação do rock e o Mada mostra isso. A gente sempre buscou observar as tendências e este é um dos fatores que nos deram esta longevidade. Se ficar muito nichado, a gente perde público. Quando a gente fica velho, a gente escolhe a dedo. Principalmente eu, que adoro ouvir discos de vinil (risos).

 

As lojinhas de vinil estão em alta nos festivais também.

Pois é. A garotada está ouvindo discos de vinil. É um movimento natural. Vai e volta. É incrível.

 

Para terminar, vamos falar do line-up do Mada 2024.

A gente procura fazer um balanço do que ocorre na música brasileira. Na sexta-feira temos Xande Canta Caetano, Duda Beat com o novo trabalho, Pitty, Ana Frango Elétrico, BK – um rap das antigas que voltou com força total. No sábado, temos BaianaSystem, figura carimbada no Mada, como foi o Rappa foi antigamente,Fresno, Djonga, Cami Santiz, aqui de Natal, entre outros. E temos uma novidade: fechamos uma parceria com a Globo Nordeste e InterTV e todo o festival será transmitido através do G1, Globoplay e, a partir da meia-noite, para todo o Nordeste em sinal aberto. Vamos alcançar um público bem significativo.

 

Confira a programação completa:

18 de outubro (sexta-feira)

Pitty

Xande Canta Caetano

Ana Frango Elétrico

Gracinha

Duda Beat

BK’

Mago de Tarso

Badsista

Ramemes

Miss Tacacá

 

19 de outubro (sábado)

Ebony

FBC

Djonga

Fresno

BaianaSystem

Duquesa

Cami Santiz

Omoloko

DJ Geni

Taj Ma House