Entrevista

O baterista recebeu o Bolsa de Discos logo após a apresentação da “Rainha do Forró” no MCJ e falou de suas influências e de como conseguiu unir arranjos percussivos do metal ao forró

Por: William Robson, editor

Não tem como não perceber a presença da bateria no show de Eliane. A cantora que se apresentou neste domingo (8) no Arraiá do Povo Poeta Lima se destaca pela versatilidade e pela maneira que consegue modernizar o forró, sem perder a sua essência. Para isso conta com uma banda de respeito, sobretudo, pelo talento de um jovem de 29 anos. O baterista Jan Ariel, que é filho da cantora, recebeu o Bolsa de Discos logo após a apresentação da “Rainha do Forró” e falou de suas influências e de como conseguiu unir arranjos percussivos do metal ao forró.

 

Jan, vamos começar falando um pouco sobre essa sua influência na bateria que chama muito a atenção? Você já toca com o Eliane desde quando?

Pronto. Na verdade, eu comecei a tocar com ela em 2015, eu tinha 19 anos. E para  mim foi um desafio.  Hoje eu tenho 29. Foi  um desafio  grande porque eu vinha de outras influências. Eu passei quatro anos da minha vida estudando apenas metal, então a minha praia era outra. E aí, de repente, caí de paraquedas num trabalho de forró, para trabalhar profissionalmente com isso. Aquele lance de viver da música, na estrada e tudo mais.

 

Mas, você tocava em bandas covers de metal?

Ainda não. Na verdade, eu vinha aprimorando mesmo só eu e a bateria, estudando durante muito tempo. Eu acho que depois que eu comecei a trabalhar com Eliane, foi que eu migrei para  fazer trabalhos extras em Fortaleza, onde a gente mora, com outras bandas de metal e tudo mais. Mas aí, para mim, foi uma missão muito grande, trabalhar com forró. Demorou uns dois anos, mais ou menos, para eu me adaptar por conta da linguagem diferente. E a cobrança do meu pai, que era o batera antes de mim.

 

Seu pai era baterista da Eliane antes?

Sim. Ele era o batera antes. Desde 91, eu acho.

 

Qual o nome dele?

Cláudio Júnior. Foi de 91 até 2015, que foi quando eu assumi.

 

Jan, ao lado da cantora Eliane, em estúdio

Como foi incrementar o forró com arranjos de metal na bateria?

Cara, eu comecei ouvindo os mais clássicos,  AC/DC,  Guns N’ Roses, o Aerosmith. Veio o Slipknot, veio o Angra, o Hangar, que é a outra banda do Aquiles Priester, uma referência  para mim. Depois, o Eloy Casagrande, para mim, é o topo das minhas referências no metal. É o cara mais completo, mais perfeito. Inclusive, eu tenho a assinatura dele tatuada, que eu fui a um workshop, tive a oportunidade de conhecê-lo. E, obviamente, como fã, eu tive que dar essa tietada, né? E, para mim, essas são as minhas referências. Sem contar o Joey Jordison, o batera principal no início do Slipknot. Foram caras que me moldaram como baterista dentro do metal. E isso é muito perceptível, inclusive na música da Eliane.

 

São perceptíveis as aplicações do metal na sua bateria, o que incrementa o show de Eliane…

Quando a gente começa a estudar esse tipo de música, fica num verme muito grande para estar fazendo aquilo o tempo inteiro. Quando eu comecei a tocar o lance do forró, eu tentei me isolar dessas viradas, me isolar dessa parte do metal, para não ser mal educado com o forró, entendeu? Então, você precisa realmente respeitar a música que você está tocando. Durante os dois anos de aprendizado que eu falei, eu tentei meio que imitar o meu pai e o que ele fazia. Então, só depois de me sentir à vontade que eu comecei a trazer essa característica e colocar nos pontos certos. Eu acho que a grande questão é você ser respeitoso e educado com aquilo que você está tocando.

 

A Eliane gostou do que você aplicou?

Sim, é uma coisa que renovou para ela, né? Ela até comentou comigo que passou a se acostumar com o meu jeito de tocar as viradas, as paradas e tudo. Com o passar dos anos, o show foi sendo moldado para mim. A galera começou a compor tema de abertura, tema de finalização, já pensando nas viradas que eu faço e tal. Acabou que hoje o show é realmente completamente voltado para o play que eu faço com essas viradas.

 

Jan Ariel e o jornalista William Robson, após a entrevista ao BDD

O que você faz passa a ser também, de certa forma, inovador, e me veio à lembrança de outros do estilo, como Carlinhos Papaleguas, com o uso de pedal duplo, por exemplo.

Sim, admiro o Carlinhos. Na verdade, a minha primeira referência nesse estilo é o meu pai, né? Ele trouxe uma característica única ali para o forró. Ele já vinha da lambada, criando aquela característica dos anos 90, aplicando no forró, né? E aí vieram algumas outras referências. No vaneirão tem o Rick Helme, que hoje é um grande amigo. Também tem o Rod Bala… O Rafinha, um cara que eu admiro pra caramba. E também tem os grandes bateras das antigas, que nem o meu pai, o Carlinhos Papaleguas, o Pezão, do Forró Real, que é outro amigo meu. Então, são caras que eu admiro pra caramba.São caras que fizeram com que a gente estivesse aqui hoje.

 

Você vê o surgimento de uma nova escola de bateristas do forró, com esse incremento de outros estilos, sobretudo o metal e o rock

Sim, claro. Acho que a música está  sempre se renovando. Os músicos também. Acho que quem não se atenta para isso acaba ficando para trás, infelizmente. Tem muita galera nova surgindo com características de outros estilos, referências diferentes.