Fotos: Luana Thayse
Se o BOLSA DE DISCOS fizer uma lista de todos os trabalhos que o músico natalense Iury Matias participou, você levaria uns dois dias para ler tudo. Com forte atuação em Mossoró, em bandas independentes e pelos bares da vida, o músico volta na direção musical do novo projeto da cantora mossoroense Dayanne Nunes, já destacado aqui no BDD. Ele aproveita para falar um pouco do processo de elaboração do EP autoral da cantora, lançado em singles mensais.
Vale destacar que Iury participou de uma galera imensa de artistas, seja nos arranjos, gravando, produzindo e dirigindo trabalhos nacionais e internacionais, tanto na produção fonográfica quanto de shows e apresentações ao vivo. Foi responsável pela produção e direção musical de singles e EPs de Elegia e Seus Afluentes, Ana Tomaz, Bia Gurgel, Cinthia, Coisa Luz, Denize Machado, Mia Passo, Tanto Bate até que Samba, álbuns de Iúri dos Santos, Riccelly Guimarães, Modulatus, Silvia Sol, participando como convidado nos álbuns de Aiyra, Aníbal Zola, entre outros. Nâo é pouca coisa.
Nesta conversa com o jornalista William Robson, Iury ainda relembra a fase em que atuou nas bandas de rock e suas principais influências da cidade. Revela que não para de ouvir coisas novas. “Eu tenho uma “regra” comigo mesmo que é; para cada música ou álbum que eu ouça porque quero ou porque gosto, tenho de ouvir cinco álbuns que nunca ouvi. Isso me “obriga” a sair do mesmo repertório, entende…?!”, disse. Pois vamos, lá.
Iury, você recentemente trabalhou no projeto autoral da cantora Dayanne Nunes. Fale um pouco de sua participação.
Dayanne é uma cantora muito experiente, com anos de atuação no cenário potiguar. Também é uma compositora com assinatura muito particular, que eu conheci em trabalhos anteriores em que ela atuava. Nesse momento ela está lançando no mundo o seu trabalho autoral solo, que é um recorte muito especial da Dayanne Nunes que a gente conhece. Eu fui convidado para fazer a direção musical desse trabalho, onde também gravei violões e guitarras.
Musicista com muita experiência, ela me apresentou as canções já com um esboço do que ela pretendia nos arranjos. Daí eu fiz uma leitura do que ela buscava, direcionei os arranjos para a proposta musical pretendida, em diálogo com as referências que listamos e parti para as gravações, nas quais cuidei da direção dos músicos que gravaram nesse trabalho, realizando o processo de “começo, meio e fim” até a entrega dos fonogramas.
Além deste projeto, o que você tem produzido?
Tem uma playlist disponível no Spotify e YouTube com mais de seis horas de música, majoritariamente de produções minhas, mas também de trabalhos nos quais participei gravando algum instrumento e algumas canções minhas gravadas por outros grupos e artistas.
Recentemente produzi uma cantora portuguesa chamada “Maria da Maré”, o primeiro single do grupo “Elegia e Seus Afluentes”, o novo trabalho do duo “Modulatus”, com o qual circulei pelo nordeste em agosto desse ano e em breve lançaremos esse material e sairão, ainda esse ano, outras canções de trabalhos que produzi, tanto nacionais quanto internacionais.
Há algum tempo, você atuava em bandas em Mossoró, como a Jukebox. Ainda pensa em projetos neste sentido?
Mossoró é o ponto de partida da minha história com a Música! Aprendi com grandes mestres; Marcus Vinicius (Biocenose), Luís Moura, Nonato Silva, Amilton Fonseca, Márcio Rangel. Toquei com bandas muito legais, destacando; Rebeldes sem Causa, Projeto Blues, Café Expresso e Jukebox, com a qual inclusive tivemos um “revival” ano passado, depois de 23 anos do nosso primeiro show. O Jukebox é um capítulo à parte pra mim, pois a história da banda se mistura um pouco com a história de alguns anos dos melhores shows e espaços culturais da cidade, como Calimar e Viola Lilás.
Eu nunca fechei nem fecharei portas para trabalhar com grupos e artistas, mesmo considerando a distância. Basta dizer que estou inserido em dois projetos internacionais que andam a todo vapor, mesmo considerando a distância. A questão mais importante pra mim é que o foco seja ‘a coisa autoral’. Estou mais interessado em compor, arranjar e produzir músicas autorias do que covers ou tributos.
Sobre seus trabalhos autorais, o que você pode destacar?
Comecei a lançar meus trabalhos autorais em 2021, e não é algo fácil, artista independente rala mais que normal para a música. Imagina que eu realizei shows de lançamento em diferentes cidades de Portugal, já tinha passado por outros países antes e por estados do Brasil, mas no Rio Grande do Norte ainda não foi possível.
Então eu destaco o álbum “Outro Tempo”, cujo lançamento no RN segue para breve. Outros trabalhos também estarão disponíveis em todas as plataformas digitais, mas esse álbum é um conjunto de composições instrumentais cujos recortes representam diferentes momentos da minha trajetória como compositor. O álbum foi construído a partir das músicas e em torno do que cada uma delas tem para dizer, apesar da ausência de texto cantado ou falado, não sendo um trabalho de destaque a guitarra porque eu sou guitarrista, entende?! Sempre pensei que muitas daquelas músicas ali (ou todas elas) cairiam muito bem como trilha sonora do dia a dia, para ouvir a caminho do trabalho, numa viagem etc.
Tem acompanhado a cena mossoroense e potiguar?
Eu tento acompanhar o cenário potiguar com a mesma atenção que o faço em relação ao restante do cenário nacional e internacional, aplicados os devidos filtros.
Mossoró sempre teve artistas e grupos incríveis! Eu tive a sorte de trabalhar com artistas mossoroenses em produções recentes, como Bia Gurgel, que produzi seu primeiro trabalho. Ela é um recorte muito bacana desse universo da “Nova MPB”, com personalidade e muito potencial para evoluir mais e mais. Também produzi os trabalhos das potiguares Cinthia e Ana Tomaz, que são artistas da mais alta qualidade e eu destaco aqui, assim como sugiro a quem não conhece ir em busca de ouvir seus trabalhos.
É muita gente boa, muita música boa, mas também têm me chamado atenção nomes como Cabocla de Jurema, Íris Lima, Rousi Flor de Caeté. Outras que estão na estrada a mais tempo também, à exemplo de Symara Fernandes e Kelly Lira, e um dos mestres do samba, já inserido no cenário nacional e que temos aqui bem pertinho da gente, que é o André da Mata. O RN é fantástico!
Em termos gerais, o que você tem ouvido em termos de músicos, discos e singles?
Eu tenho uma “regra” comigo mesmo que é; para cada música ou álbum que eu ouça porque quero ou porque gosto, tenho de ouvir cinco álbuns que nunca ouvi. Isso me “obriga” a sair do mesmo repertório, entende…?!
Tento compreender, estudar, analisar etc., as tendências da Indústria Cultural, sobretudo nos meios musicais em que trabalho, então isso me faz ouvir música de maneira mais “eclética”. Tem muita coisa interessante sendo lançada diariamente!
Gosto de manter a escuta de trabalhos do cenário nacional sempre intercalando com produções européias, africanas (que são incríveis) e um pouco menos as estadunidenses.
Para terminar, quais os próximos passos de Iury Matias na música?
Como mencionei, tenho trabalhos em andamento no Brasil e na Europa, majoritariamente em Portugal. Neste momento tenho shows (sim, no plural) sendo montados para circulação em 2025, em formato solo e com banda, em recortes do meu trabalho autoral.
Como produtor, estou trabalhando nos novos lançamentos do Modulatus, mais uma leva de músicas do meu trabalho solo que vêm por aí, e alguns grupos e artistas que estou produzindo, em diferentes etapas do processo de produção.
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