Discão

Decerto, “Green” não é um disco de punk, mas lembra o punk. Não é de pop, mas vai buscar algo lá. Não é essencialmente de folk, mas conta com instrumentações do estilo

Por: William Robson, editor

O R.E.M é uma daquelas bandas estáveis no cenário do rock mundial. Estável no quesito produção fonográfica, visto que a banda de Athens não está mais em atividade desde 2011, após três décadas de uma impecável carreira. Liderado por Michael Stipe, o grupo deixou grandes relíquias que podem ser citadas para além do disco “Document”, fortemente aclamado pela crítica.

Um deles é este “Green”, gestado em 1988, disco com nove faixas que sedimenta a criatividade estilística do grupo. Sim, o R.EM. tem uma característica que não remete a qualquer som, nem mesmo à Patti Smith, cantora que Stipe garantiu ser a sua maior influência e da banda também. Isso quer dizer que o R.E.M. e seu som pegado e original beberam da fonte do punk rock, de Patti a Television, mas as dosagens, se sentidas, são praticamente imperceptíveis no álbum.

Decerto, “Green” não é um disco de punk, mas lembra o punk. Não é de pop, mas vai buscar algo lá. Não é essencialmente de folk, mas conta com instrumentações do estilo. Todas ganham uma estética como se fossem conectadas entre si, uma genialidade que o produtor Scott Litt conseguiu materializar.

Este trabalho é o sexto da banda e é um manifesto político contra as ações estadunidenses na Guerra do Vietnã. O título do álbum se refere à substância química chamada de Agente Laranja. Por isso, a capa tem esta cor sob o título que remete ao verde.

O disco abre com “Pop Song 89”, que como sugere, é dançante, quebrado com um criativo jogo executado nos tambores de Bill Berry. “You Are Everything” quebra o ciclo dos pops iniciais e expõe um melancólica confissão (“Às vezes eu sinto como se não pudesse mais cantar/Estou muito assustado com esse mundo/Estou muito assustado comigo”), logo envolvida pela “Stand”, música que ganhou até coreografia simpática em sua versão de videoclipe.

“Orange Crush” faz alusão ao herbicida usado pelos americanos na guerra. É mais um protesto de Stipe. Em “Turn You Inside Out” trata de auto-reflexão permeada por uma das linhas de baixo mais belas do talentoso Mike Mills. A voz anasalada de Stipe ganha versão que parece saída de um megafone, acompanhada com a longíqua e necessária intervenção de Mills nos backing vocals.

Ou seja, é um disco completo, obra de uma das grandes bandas que a música foi capaz de abrigar. Em seguida, a banda entra noutra atmosfera, mais aberta, clara e descontraída em “Out of Time”. Mas, aí é tema para outra resenha.

 

MÚSICAS

1.Pop Song 89

2.Get Up

3.You Are The Everything

4.Stand

5.World Leader Pretend

6.The Wrong Child

7.Orange Crush

8.Turn You Inside-Out

9.Hairshirt

10.I Remember California