Crítica/Disco

Esta gravação ao vivo, disponível em triplo vinil, duplo CD + DVD, duplo CD simples, DVD e Blu-ray (a multiplicidade de formatos condiz com seu próprio espírito — não esperávamos menos), documenta a elaborada encenação que vem sendo apresentada ao redor do mundo desde antes mesmo da pandemia

Por: Carlos Pérez de Ziriza, do Mondo Sonoro

Cornucopia Live – BJÖRK

COTAÇÃO: ⭐⭐⭐ ☆☆ (BOM)

Dá a impressão de que o principal desafio de Björk nos últimos quinze anos tem sido fundir diferentes linguagens no palco, sempre desafiando os limites do que se entende por um show mais ou menos convencional. É uma aposta constante que nem sempre cresceu em paralelo à sua magnificência criativa (difícil igualar seus quatro primeiros álbuns), embora tenha aumentado — ainda mais — sua aura de artista única, guiada apenas por seu instinto singular e sem admitir outras comparações além de seu próprio currículo. Videoarte, música de toque experimental e consciência ecológica em um mundo acostumado ao desastre: não é pouco, considerando o caminho em direção ao abismo ambiental, ético e até estético.

cornucopia: liveEsta gravação ao vivo, disponível em triplo vinil, duplo CD + DVD, duplo CD simples, DVD e Blu-ray (a multiplicidade de formatos condiz com seu próprio espírito — não esperávamos menos), documenta a elaborada encenação que vem sendo apresentada ao redor do mundo desde antes mesmo da pandemia, quando foi estreada em Nova York, e que passou por Madri em 2023.
No repertório, as composições de “Utopia” (2017) e “Fossora” (2022) têm papel de destaque, mas também há espaço para alguns clássicos anteriores como “Isobel”, “Hidden Place”, “Pagan Poetry” e “Mouth’s Cradle”.

É um espetáculo de 360 graus, composto por 27 cortinas móveis, um septeto de flautas, instrumentos como a harpa (com mais de uma dezena de instrumentistas) e um conceito musical que talvez ofereça a integração mais fluida entre o eletrônico e o orgânico, entre a natureza e a tecnologia de ponta, que se possa testemunhar hoje em qualquer parte do mundo.

Além de gostos e aversões pessoais, trata-se de uma proposta imersiva que, como quase tudo que leva a assinatura da islandesa nas últimas duas décadas, exige do ouvinte um olhar cúmplice e predisposto para se deixar tocar e envolver plenamente.