BDD no Mada 2025

Nesta rápida conversa com Renan Simões, do Bolsa de Discos, durante o festival Mada, Don L reflete sobre as transformações em sua sonoridade ao longo dos anos, a relação entre forma e conteúdo em sua obra e o compromisso em construir uma música que só poderia nascer aqui, no Brasil

Por: Renan Simões, especial para o BDD

📸: @biazvedo

Com uma trajetória marcada pela inquietação artística e pela busca constante por novas linguagens, Don L é um dos nomes mais inventivos do rap brasileiro contemporâneo. Desde os tempos do Costa a Costa, passando pela trilogia Roteiro para Aïnouz, Vol. 1 e 2, até o mais recente álbum — de forte identidade brasileira —, o artista segue explorando sons, discursos e estéticas que rompem fronteiras.

Nesta rápida conversa com Renan Simões, do Bolsa de Discos, durante o festival Mada, Don L reflete sobre as transformações em sua sonoridade ao longo dos anos, a relação entre forma e conteúdo em sua obra e o compromisso em construir uma música que só poderia nascer aqui, no Brasil.

Renan Simões (Bolsa de Discos) – Ao longo dos seus lançamentos (uma mixtape e três álbuns) observamos transformações em suas sonoridades e elementos musicais. Você já abordou sonoridades mais eletrônicas, mais trap, mais alternativas, e agora no último há muito mais da música brasileira. Como você interpreta essas suas transformações ao longo dos anos?

Don L –  Tem uma coisa em Arte que é: forma e conteúdo não se separam. Se você quer ter um conteúdo que seja desafiador, de vanguarda, o que você quiser transmitir no seu conteúdo, você tem que transmitir na forma também, na estética, e essa preocupação, esse cuidado está lá em todos os meus discos. Acho que mesmo quando eu faço ali o bagulho eletrônico, como você falou. Por exemplo, quando eu estava fazendo um drill, era um drill com funk, eu sempre tento fazer algo que não pode ser feito fora do Brasil, entendeu?

 

BOLSA DE DISCOS Com as características próprias, né?

Don L – Tipo, qualquer pessoa no mundo tem que escutar e falar “hum, tem um drill aqui, mas não é o drill inglês, isso aqui é uma coisa brasileira”. Aqui, sabe, é outra parada. A gente sempre está fazendo isso desde lá do começo, do Costa a Costa [projeto do artista junto a Nego Gallo, ativo entre 2005 e 2007]. Acho que agora, nesse último disco, foi onde eu radicalizei mais nesse sentido, querendo não ter nem essa parada de fazer um drill com uma cara brasileira. Não fiz nenhum drill, não fiz nenhum trap, não fiz nenhum boom bap, nada que possa ser classificado como uma batida de rap de fora do Brasil. É uma parada nossa, realmente. Tudo ali é Brasil.