Em sua estreia como projeto solo, Delusis, alter ego do músico potiguar Dimetrius Ferreira, conhecido por sua trajetória bandas de Natal RN como Mahmed. Delusis entrega um EP que faz jus ao nome: Imerso não apenas se ouve, mas se entra. O lançamento é um convite para habitar o tempo interior, onde os ruídos viram trilha e o silêncio ganha textura.
Com três faixas e pouco mais de dez minutos de duração, o EP lançado em 2025 se afasta das fórmulas convencionais. Em vez de seguir estruturas fáceis ou refrões pegajosos, Delusis aposta na construção de ambientes sonoros envolventes, guiados por uma produção minuciosa e afetiva, assinada por Roberto Kramer (Lupe de Lupe, El Toro Fuerte) e Gabriel Arbex. A bateria de Luis (Loobas) Cardoso, da banda paulista Terno Rei, contribui com sutileza e intenção, evitando protagonismo, mas nunca ausente.
A faixa de abertura, “Perenelle” com camadas de guitarras lo-fi e de sintetizadores de fundo se entrelaçam em um crescendo quase espiritual. Dimetrius canta como quem narra de dentro de um sonho.
Em seguida, “Imerso em Mistério” é o núcleo magnético do EP, desacelera e aprofunda ainda mais o clima. O tempo parece derreter dentro da música. A mixagem favorece o espaço: cada elemento respira. O som não ocupa, ele expande. A voz sussurrada e os efeitos sonoros conferem um ar de nostalgia.
“O Amor Morreu”, faixa de encerramento, é quase uma prece laica. Ao mesmo tempo melancólica e reconfortante, fecha o EP com a sensação de retorno à superfície, não com respostas, mas com uma nova forma de perguntar.
‘Imerso’ não é um EP de estreia que se propõe a mostrar tudo de uma vez. É o contrário: ele revela pouco, sugere muito e aponta para um caminho onde o som é também um lugar para estar. Dimetrius mostra que sabe habitar esse lugar com maturidade artística e uma escuta generosa ao próprio silêncio.
Delusis nasce como um projeto íntimo, mas que reverbera longe, daqueles que criam uma pequena bolha de tempo ao nosso redor. Em um mundo que grita, ele sussurra. E às vezes, isso basta para que a gente escute de verdade.
