Entrevista

Uma banda que vem se destacando na capital cearense pertence aos caras da Sommelier. O nome já sugere vinho, né? E é isso mesmo. O vocalista Petrus Renan tem uma performance de palco características das bandas de pós-punk, que ora remete ao Fellini, ora lembra o Cure, ora caminha pelo The Fall. O som também vai nesta pegada. Uma grata surpresa no rock nordestino

Por: William Robson, editor

Imagem: A banda cearense Sommelier (Fotos: Brenda Kélvia @criarbk)

Uma banda que vem se destacando na capital cearense pertence aos caras da Sommelier. O nome já sugere vinho, né? E é isso mesmo. O vocalista Petrus Rennan tem uma performance de palco regada à bebida e com características das bandas de pós-punk, que ora remete ao Fellini, ora lembra o Cure, ora caminha pelo The Fall. O som também vai nesta pegada e noutras bem diversas também. Uma grata surpresa no rock nordestino que abriu para a galera da Papangu no dia 3 de outubro e que o BDD acompanhou.

A banda é nova, tem pouco mais de um ano entre formações que se oscilaram mas foram capazes de produzir uma pá de músicas. Muitas estão prontas e arranjadas e somente três lançadas. O grupo gira em torno da criatividade vocal, performática e de  composições de Petrus Rennan, que conduziu a maior parte desta conversa com o BDD. Porém, os demais integrantes aplicam suas influências que misturam o som a ponto de eles considerarem “irrotulável”.

Para isso, conta com a potências dos arranjos de guitarra de Pedro Riba, do John Lucas na bateria (que contribui para a eficácia da cozinha do grupo, ao lado de Panque, no baixo) e o GB Oliveira na guitarra-base. “Sou o mais psicodélico da banda”, confessa Petrus, diante de uma formação baseada no metal, no glam, no punk, na MPB e no pop. Imagine, então, a alta capacidade criativa destes caras.

 

O vocalista Petrus Rennan, a alma da banda se destaca por performance notável no palco (Brenda Kélvia @criarbk)

 

BOLSA DE DISCOS – A performance do show de vocês é sempre acompanhada com vinho ao que parece. O nome da banda é muito sugestivo neste sentido. Essa questão do vinho tem relação direta com a banda?

PETRUS RENNAN –  Olha, é um elemento simbólico.  Acho que o vinho entra como símbolo, porque Sommelier já remete a isso. Eu gosto de brincar com esse símbolo… A galera olha, vê, o cara tá tomando uma, o cara é louco, tudo corrobora, né? O vinho traz também algo imprevisível. Eu dou umas goladas muito loucas no show, derramo mais do que bebo. Então é tudo para corroborar com essa identidade, da imprevisibilidade da vida e tudo.

 

BDD – E como foi o começo deste projeto?

PEDRO RIBA – A banda, inicialmente, começou com uma formação composta pelo Rennan, o Panque, e um outro rapaz. Depois agregou o John na bateria. O Panque saiu da banda, e aí acabou que eu entrei como guitarrista solo. A gente ficou com outro baixista. Foi ano passado que aconteceu isso. A banda em si, se apresentou a primeira vez ano passado. Temos apenas dois anos. Somos bebezinhos na cena.

O Sommelier em ação: banda cearense mistura influências que remete ao punk e ao pós-punk (Brenda Kélvia @criarbk)

 

BDD – De lá para cá, mudou alguma coisa?

PEDRO RIBA – Com o tempo, depois, o Panque retornou para o contrabaixo, o outro rapaz saiu da banda. A gente ainda integrou por último o Gabriel para poder deixar o Rennan mais solto, para poder performar nas músicas. Às vezes, a gente se apresenta somente com quatro, depois com cinco,  mas o show não perde a qualidade.

 

BDD – E as composições?

PEDRO RIBA – As composições são o Rennan que faz.  Ele é o core, que a gente chama, o centro da banda,  a força motriz que motiva a gente, faz a gente melhorar nas coisas.

 

BDD – Então, o Rennan é a figura principal da banda neste sentido…

PETRUS RENNAN – A  banda começou muito centrada em mim, em minhas composições, mas recentemente, nas novas fases da banda, a gente tem músicas em co-criação. Por exemplo, “Elefante”, é uma co-criação originalmente minha e do Pedro, letra e tudo. A gente tem “Bom Rapaz”, que é uma que vamos apresentar em breve e traz o envolvimento do batera, do John, e também do Panque na elaboração de algumas linhas e tudo.

 

BDD – Ou seja, começa a ganhar outras características, né?

PETRUS RENNAN – Isso. começou como um centro, agora está se torna algo colaborativo. Comparo eu e o Pedro (Ribas) muito com as fases dos Beatles. Jamais queremos nos comparar aos Beatles. Não é isso… Digo apenas em questão de etapas. Os Beatles, quando começaram, as músicas eram prioritariamente só do John e do Paul e, aí, com o tempo, foram evoluindo com todos os integrantes compondo… o George, enfim, o Ringo… A gente está passando pelo mesmo processo.

 

BDD – Esta etapa parece natural em muitas bandas. No show, isso já percebido também?

PEDRO RIBAS – O nosso show, atualmente, são músicas, na maioria, do Rennan. Depois, entram outras que já são nossas, que já começam a andar.

A banda Sommellier, após entrevista com a equipe do BDD (Foto: Andreas Felipe)

 

BDD – Notei que o trabalho de vocês bebe fortemente do pós-punk paulista, aquela linha que lembra o Fellini. Ou estou enganado? 

PETRUS RENNAN – Eu acho que é nosso fluxo de composição, bem como muitas coisas, os processos da banda são orgânicos. A gente não procura projetar muito isso, pensar muito, porque acho que isso limita. É um negócio, tipo assim, chega com a música,  e aí?  Aí o John (Lucas), diz: “Essa música aqui pede a bateria desse jeito…”. Eu acho que o que forma o nosso estilo,  como eu falei no início da entrevista, é a polivalência de gêneros e de influências de cada um. Se você percebeu esta influência do pós-punk,  acho que tem muito a ver com o punk, bebe muito dessa fonte. Eu também escuto alguma coisa ou outra, mas de pós-punk, eu não sou muito da vibe.

 

BDD – E o que vocês buscam de influências, então?

PETRUS RENNAN – Tudo que a gente toca hoje, no palco, é fruto de influências, de vivências de vida de cada um, então a gente procura não se rotular muito em gêneros. A gente procura ser uma vanguarda, um som mais focado na nossa impressão. Até porque, é o que eu digo, quem tem que definir se a gente é bom ou ruim é o público, e quem define o gênero que nós somos também é o público.

Petrus Rennan durante show (Brenda Kélvia @criarbk)

 

BDD – Longe dos rótulos…

PETRUS RENNAN – Exatamente. A gente não se limita a dizer: “Ah, somos uma banda de punk rock…”. Não, somos uma banda de rock. Se você acha que a gente é pós-punk, a gente é pós-punk para você. A gente já foi denominada de banda de soul,  então é o que o público definir. Nós somos uma banda de rock com muitas influências, em resumo.

 

BDD – Já há disco encaminhado?

PETRUS RENNAN – Assim, a diretoria não me permite falar muito sobre isso (risos). Mas temos projetos de gravações futuras. Fiquem atentos no nosso Instagram @bandasommelier,  YouTube, vocês vão ver os próximos projetos. Não vou revelar muito, mas, sim, nós temos planos para o futuro.

 

BDD – O que está gravado?

PETRUS RENNAN – Atualmente a gente conta somente com três músicas gravadas, que já estão divulgadas no Spotify. Porém, estamos em projeto interno para ver se a gente lança alguma coisa mais conjunta,  talvez um EP, talvez um CD, a gente não pode falar muito,  porque a gente gosta de seguir o fluxo das coisas, não gosta muito de determinar datas, ou determinar: “Ah não, vamos lançar esse ano”. Não sabemos. As coisas são de acordo com a nossa vida… Trabalho, quase todo mundo aqui é CLT. Então a gente tem que trabalhar, tem que gravar, tem que ser músico, tem um pouco de tudo.

BDD – E música autoral dá mais trabalho e é mais cara…

PETRUS RENNAN – Com certeza, com certeza. Hoje, temos em torno de umas 50, 70 músicas já autorais, todas arranjadas. Fora as escritas e sem os arranjos. Temos uns 20 anos de música aí para gravar.