Imagem: Chico Cesar em ação para celebrar o álbum “Aos Vivos” (Fotos: Ênio Freire/Agecom Uern)
Quando eu conversei com Chico César pela primeira vez foi em maio de 1996. Ele acabara de lançar o seu primeiro disco, um trabalho incomum por se tratar de um disco ao vivo. “Aos Vivos” nasceu com toda a potência e foi exposta sob os batuques de Simone Soul no Projeto Seis e Meia no auditório da antiga Escola Superior de Agricultura (ESAM, hoje UFERSA).
Já devidamente aprovado pelo público que prestigiou aquela apresentação, o paraibano retornou a Mossoró com banda completa, em agosto de 1996, monitorado pela MTV que dedicou programa especial ao artista. Lá, tivemos outra conversa, desta vez, tive de esperar o fim do show, às 3h da manhã para que ele falasse sobre outro álbum recém-lançado, o primeiro de estúdio, o “Cuscuz Clã”.
Porém, o show dedicado ao seu segundo trabalho só viria a ocorrer em dezembro de 1997, também no projeto Seis e Meia, desta vez, no Teatro Lauro Monte Filho.
O autor de “Benazir”, “À Primeira Vista” e “Mama África” voltou à cidade, através de parceria entre o Banco do Nordeste e a Uern no sábado (11). Sua quarta aparição celebrou o disco “Aos Vivos”, que chega aos 30 anos ainda mais rejuvenescido, como ele mesmo define. E depois de todo este tempo, voltamos a conversar, pouco antes de subir ao palco, sobre o álbum, música e política e, claro, os novos projetos.

BOLSA DE DISCOS – Você está realizando shows que celebram os 30 anos do disco “Aos Vivos”. É um disco que, podemos dizer, envelheceu bem?
CHICO CÉSAR – Eu acho que ele rejuvenesce a cada dia, a cada ano. Ele agora inclusive está no formato que eu sonhei para ele quando gravei o disco, que é no formato vinil. Quando eu lancei o disco, a gravadora Velas não quis. Disse: “o seu público é um público moderno que vai ouvir em CD”. A gravadora tinha razão e lançou em CD.

BDD – E agora ganhou este novo formato…
CHICO CÉSAR – Eu fico muito feliz que ele também exista em vinil, e que a mensagem dele seja percebida pelos jovens. Eu acho que está mais forte do que antes até, porque ela é fortalecida pelas forças, vamos dizer, exteriores, os jovens, os movimentos de mulheres, os movimentos negros, que vêm para consolidar a potência que está nesse disco.
BDD – Você chegou a gravar uma música “Bolsominions são demônios” com forte apelo político em meio ao bolsonarismo mais forte. Considera este período também como importante para a sua música sob o ponto de vista político?
CHICO CÉSAR – Eu acho que um dos meus discos mais políticos é o primeiro, é o “Aos Vivos”. “Mama África” é uma canção super política. A opção de colocar no refrão de “À Primeira Vista” palavras que não são compreendidas porque elas não existiam antes. Você colocar palavras que não existiam antes em uma canção de amor é uma escolha política também. Quando você diz, “não aponte o dedo para Benazir, seu puto, ela está de luto pela morte do pai”, isso é bastante político. Então, assim, eu não sinto que tenha havido um momento em que eu me tornei mais ou menos, eu acho que já estava tudo ali na essência, no começo, porque inclusive o meu começo ele demorou.
BDD – Na carreira?
CHICO CÉSAR – Sim. Meu começo já foi com disco quando eu já tinha 31 anos, então já era um homem formado, com uma visão de mundo bastante clara. O que eu acho que aconteceu no Brasil, e é uma pena de certo modo, é uma sectarização. A sociedade se dividiu, manifestou coisas que nós julgávamos que não se manifestariam, o ódio à diferença, porque você discordar do outro, isso é pacífico, isso faz parte da democracia. Você querer a eliminação do outro, aí já descamba para o fascismo. E quando lá atrás eu fiz “Respeitem Meus Cabelos, Brancos” isso é super político… “Reis do Agronegócio”, também super político… “Odeio, Rodeio”, super político… Então tudo sempre foi político. Agora, a gente chegou num momento em que a intolerância, de certo modo, acende algumas luzes. Mas eu acho que aí é, mais até como cidadão do que como artista, eu acho que é preciso manter a postura. Você se manter coerente, se manter firme, se manter seguro, buscar estar equilibrado para dialogar também com essas forças.

BDD – Agora, não é muito comum o artista lançar logo um disco ao vivo como o primeiro disco, o seu segundo disco é um disco de estúdio, “Cuscuz Clã”, lançado em 96. Você pensa em alguma coisa específica com relação aos 30 anos do Cuscuz Clã?
CHICO CÉSAR – Eu pensei muito em celebrar o “Aos Vivos” porque é o meu primeiro, é a minha estreia… Mas, o que a gente vai fazer com o “Cuscuz Clã”? Juntar a banda antiga com a banda nova e fazer uma noite, a noite do meu aniversário lá no Circo Voador (agora virou uma tradição, todo ano meu aniversário é comemorado no Circo Voador, no Rio de Janeiro) e a gente vai fazer essa celebração. Mas é muito mais difícil sair para a estrada juntando duas bandas, juntando a banda Cuscuz Clã com a banda de agora.
BDD – Eu lembro que no seu show de 1996 no auditório da Esam (agora Ufersa), a Simone Soul estava com você na percussão…
CHICO CÉSAR – E estava tocando comigo ainda há pouco. De vez em quando ela toca. É que ela mora na Holanda, então quando ela está aqui toca. Como está chegando perto do final do ano, logo ela vai estar aqui comigo outra vez.

BDD – Além da celebração do seu primeiro disco, há projetos para disco novo de inéditas
Não, não.
BDD – O seu último disco saiu em 2022, o “Vestido de Amor”… Três anos já.
CHICO CÉSAR – É, tem um disco que eu gravei com dois argentinos, acho que é de 2022. A gente vai lançando muitas coisas, colaborações e tal, celebrando “Aos Vivos” agora. Acho que vai demorar um pouquinho, apesar de que tenho muitas canções, principalmente na época da pandemia, eu compus muita coisa. Tenho músicas novas para cinco discos, pelo menos, mas agora estou sem tempo de lançar.
