O Bolsa de Discos, pelo segundo ano seguido, reúne grupo importante de críticos, produtores, músicos e jornalistas para trazer os melhores discos lançados em 2024. Os especialistas escolheram 44 trabalhos nacionais e internacionais. Neste ano, o BDD contou com a participação de 15 críticos de variados veículos e atuações. Os jornalistas Mauro Ferreira (g1), Silvio Essinger (O Globo) e Pérola Mathias (Folha de S. Paulo) participam exclusivamente e anunciam seus destaques. Como você vai perceber, algumas coincidências aconteceram, quando alguns discos foram escolhidos por mais de um crítico. O BDD, então, vai incluir a análise de cada um para estes álbuns. Nesta edição, escute também cada disco a partir do link para streaming. Todos estão dispostos em ordem alfabética.
Amaríssima – Melly
Melly amadureceu bastante nesse último trabalho e sem dúvida conseguiu alcançar um novo patamar na sua carreira em constante crescimento. Jomardo Jomas, produtor (Mada)
A Path to Obliterarion – Rise Behavior
A banda Rise Behavior veio de mansinho participando dos melhores festivais de Santa Catarina e aos poucos construindo seu público show por show. A qualidade do seu debut, ‘A Path to Obliterarion’, foi um estrondo principalmente para mim, pois tive o prazer de acompanhar muita coisa ao vivo e é uma banda que se dedica para trazer o melhor e conseguiram, já que na minha opinião pessoal é o melhor disco de Metal do ano de 2024. Instrumental coeso e com muita ousadia. Tudo dentro do disco se complementa. Riffs viscerais, pesados e linhas densas de baixo, que acompanhado de uma bateria aguçada, complementa com um vocal ritualístico e fantástico. É uma surpresa sonoramente falando, mas que já vinha vindo sendo construído de forma singela e profissional. Maykon Kjellin (O Subsolo)
Ato 3: A Cidade e Ato 2: Furdunço – Sourebel
Na verdade, são três EPs que formam este álbum desta banda periférica e sediada em Natal. Talvez seja a banda que mais cresceu na capital em 2024. Vinha numa crescente e alcançou o ápice no festival DoSol, muito por conta deste trabalho e desta narração da periferia de Natal. Junta muitos beats dançantes e outras partes melódicas. Anderson Foca, produtor (DoSol)
Bacuri – Boogarins
Foram cinco anos longe de um álbum de inéditas, mas enfim em 2024 o grupo de Goiânia, referência da nova psicodelia mundial, lançou “Bacuri”. É um disco que o guitarrista Benke Ferraz considera o mais estéreo, completo que a banda já fez, e que foi gravado de forma caseira, em São Paulo e com Alejandra Luciani, engenheira que cuida do som dos Boogarins nos palcos. Com composições de todos os integrantes, trabalhadas com muita calma antes de entrar em estúdio, ele consegue reproduzir fielmente o admirável som ao vivo do quarteto. As primeiras faixas — “Bacuri”, “Corpo asa” e “Chuva dos olhos” — anunciam um disco maduro, com influências do Clube da Esquina bem evidenciadas. Silvio Essinger (O Globo)
Trata-se de um álbum de canção, o que fez muito bem para eles ao reinterpretar obras do Clube da Esquina. Determinou um lugar importante para este disco, por buscar explorar texturas. Este disco chega com este lado da canção como algo muito forte. Vale destacar os vários vocalistas deste disco, uma versatilidade interessante. Anderson Foca, produtor (DoSol)
Caju – Liniker
Liniker segue imbatível! É sem dúvida a artista brasileira mais relevante dos últimos anos e com Caju ela consolida sua importância. O álbum, delicado e elegante, vai na contramão de tudo aquilo que vem sendo produzido na música pop tupiniquim. Passeando por uma diversidade de estilos, a cantora paranaense conseguiu um feito raro: sucesso absoluto de crítica e público. Até os ouvidos que rejeitam algo mais poético e profundo se emocionaram com os versos de Caju. Os arranjos são lindos e arrojados. Os vocais de Liniker , repletos de swing, estão em sua melhor fase e superam o que já era excelente em Cru (2015). Destaque para a faixa título, que já um hit total, e a belíssima “Veludo Marrom” que tem mais de 7 minutos de duração (algo incrível em tempos de trends nas redes sociais). Cláudio Palheta (Clube do Vinil)
Para muita gente, o disco do ano. Premiado e aclamado, esse novo trabalho da Liniker mantém sua musicalidade poderosa entre o swing e a MPB. O vozeirão dela é mais que conhecido, e aqui ela mostra sofisticação musical e ousadia nas letras. Discaço. Cefas Carvalho, jornalista
Cartoon Darkness – Amyl and The Sniffers
A banda jogou a energia lá no teto com esse albúm. É punk, cheio de sarcasmo, e aquele caos que dá vontade de sair pulando. Esse segundo álbum confirmou a banda na cena punk moderna e não deixou a desejar nada para o album de estreia, com a diferença que nesse temos algumas músicas mais lentas. Mellina Passi (DJ Lita Ree @litaree__)
Charli XCX – BRAT
Finalmente conseguimos materializar uma imagem naquele croma enigmático que a diva da PC Music decidiu usar como capa do que se apresentava como um projeto com o ego artístico como espinha dorsal. Todos os singles que Charli XCX havia adiantado apontavam para a sua faceta mais narcisisticamente despreocupada, utilizando os sons eletrônicos da club como altar onde performa um autoculto à sua figura. Entretanto, a maior virtude de “BRAT” está na bravura com que o artista brinca com as expectativas sonoras e temáticas que se poderia ter sobre um álbum que foi apresentado – literalmente – como um energético pop de caldeira. O seu último projecto não é tanto uma reconquista da sonoridade eletrônica festiva de “how i’m feeling now” (20) mas uma celebração de toda a estética que estruturou a discografia de Charli, transformando o álbum numa espécie de “The Eras Tour” particular. Dani Grandes (Mondo Sonoro)
Coral – Zé Manoel
Zé é um artista de imenso talento, sobretudo como compositor e pianista. Esse álbum produzido por Bruno Morais fica no mesmo alto nível do anterior, Do meu coração nu. Amei as composições (quase todas inéditas e autorais), os arranjos e os climas de Coral. O álbum tem diversidade. Não soa linear. Mauro Ferreira (G1)
Corpo Celeste – Gracinha
É um disco potente, bem narrado, com ótimas letras, com excelente produção. Conseguiu tranpor um clima, de certo modo, soturno, meio etéreo até, mas para um ambiente que funciona para Natal, funciona para a praia. Por isso, é um dos discos de 2024. Anderson Foca, produtor (DoSol)
Dance, No One’s Watching – Ezra Collective
Album que é pura vibe. Jazz, afrobeats, muito groove que te puxa pra pista imediatamente. Trouxe um baita de um oxigênio para esses gêneros musicais que estavam meio saturados. Foi minha descoberta de 2024. Mellina Passi (DJ Lita Ree @litaree__)
Dark Matter – Pearl Jam
Dark Matter, do Pearl Jam, é uma prova de que a banda continua com a sonoridade e a potência rock´n´roll em alta. A química entre os integrantes da banda é perfeita, com destaque para a voz portentosa de Eddie Vedder. Quem viu aquele garotão dos anos 90 subindo nas estruturas do palco e arriscando a vida ainda se surpreende com sua vitalidade. Claro, com as devidas proporções ele não faz mais as maluquices de antes, mas a voz continua límpida. Junte-se a isso a excelente bateria de Matt Cameron e os riffs generosos e solos maravilhosos do guitarrista Mike McCready. Eis que você tem um trabalho que nas primeiras audições você já está acostumado com as músicas e cantarolando, com destaque para Wreckage, Won´t Tell, Waiting For Stevie, a própria Dark Matter (que dá nome ao trabalho do ano passado) e a belíssima Setting Sun fechando o “disco” de 11 faixas:
“O gesso foi feito para consertar ossos quebrados
Mas não existe tal coisa como consertar um amor que deu errado
Continuo batendo na porta porque sei que alguém está lá
Espero na varanda, na esperança de que um dia, me deixem entrar
Dizem que no final tudo vai ficar bem
Se não está bem, então, não é o fim” Emerson Linhares, jornalista
Diamond Jubilee – Cindy Lee
Eis que a Pitchfork Media atribui uma nota altíssima para um álbum independente de um artista drag com duas horas de duração, 32 músicas originais, disponível inicialmente apenas no YouTube e em um website. Parecia o checklist perfeito para supervalorizar um álbum só por ser “diferentão”. Entretanto, para minha surpresa, Diamond jubilee, do Cindy Lee, projeto do canadense Patrick Flegel, se mostrou incrível do início ao fim. A música é muitas vezes torta, suja, imprevisível e desoladora, mas ao mesmo tempo traz muita esperança, boas lembranças e ganchos musicais que grudam na mente – características do hypnagogic pop, que propõe essa revisita ao passado. Destaco a elegante e assertiva faixa-título, a nostálgica Dreams of you, e a seção central do álbum, que consegue abarcar o vazio, o pulsar dançante e a agressividade em uma sequência impecável: Til polarity’s end, Realistik heaven, Stone faces, GAYBLEVISION, Dracula e Lockstepp. Renan Simões, professor de Música da Uern e crítico
Elementum – Santa Cora
No ano passado ouvi o primeiro single da banda e achei que poderia vir mais do mesmo que estamos acostumado no cenário. Mas a banda conseguiu criar aos poucos sua originalidade e personalidade. O vocal é super afinado e traz aquela pegada lírica perfeita munida de um vocal feminino encantador. As linhas de guitarra trazem riffs sujos e solos incríveis, o baixo é bem trabalhado longe de ser tocado em apenas uma corda para dar corpo e sim para se destacar junto ao instrumental. Já a bateria alterna entre cadência e explosão, fazendo um campo forte e conciso na proposta do álbum. O que mais me chamou atenção além da alternância do disco de faixa para faixa, foram o tempo executado por cada faixa, pois é raro vermos hoje em dia um disco com músicas em uma média de 4 minutos e o mais incrível é a qualidade de cada uma. Ouvindo música por música é perfeitamente notório a construção profissional de todo o trabalho, longe de encher as músicas para ter mais corpo e ouso a dizer que se deixassem, naturalmente iria ter mais minutos tamanha competência e técnica dos músicos, discaço! Maykon Kjellin (O Subsolo)
Entre o Velho e o Tempo Futuro – Caixão
Caixão é outra banda maravilhosa de Fortaleza, traz influências dos anos 60 e 70, muito psicodelismo e tem atraído muitas pessoas para os seus shows. Sempre pra cima com tempos e harmonias intrincadas, a banda lançou em 2024 o excelente álbum “Entre o Velho Tempo Futuro”. O nome já explica bem sobre o som da banda, trazendo essas influências clássicas para construir algo novo. Tem Blues, experimentalismo e progressivo, tudo embolado num pacote vibrante e hipnótico. Felipe Cazaux, músico cearense
From Zero – Linkin Park
Em uma era de múltiplas possibilidades musicais e artísticas, onde o experimental praticamente se tornou o “mainstream”, o Linkin Park fez o óbvio e encantou. From Zero é o retorno inesperado após sete anos do trágico falecimento do ex-vocalista da banda, Chester Bennington, que para muitos também representava o fim do grupo. Mesmo que haja qualquer controvérsia do ponto de vista técnico ou criativo do disco é impossível dizer que ele não é a obra mais impactante do ano, furando bolhas e chegando até a quem não compartilha do saudosismo pelo trabalho dos californianos (como é o meu caso). A chegada de Emily Armstrong aos vocais é maravilhosa e bate de frente com toda a atual cena conservadora do rock. Emptiness Machine é, sem dúvida, a música do ano e pode ser incluída entre os maiores hits do gênero no milênio. Cláudio Palheta (Clube do Vinil)
Coragem é a palavra que define o recente álbum do Linkin Park. Na atual conjuntura do mundo e das redes sociais, substituir um vocalista carismático e talentoso como Chester Bennington era uma missão dificílima. Porém, Mike Shinoda parece ter planejado tão bem o retorno do grupo que deixou a capacidade de Emily Armstrong falar por si só, ou melhor, gritar por si só. O disco tem ótimas músicas, que lembram o período inicial da banda californiana. Tem a tradicional pegada de rap, o DJ Joe Hahn brilha, a bateria e a guitarra trazem um sentimento de nostalgia do início dos anos 2000. Porém, as faixas não ficam presas nesses aspectos e mostram a qualidade que acompanhou a banda, muitas vezes estigmatizada pelo carimbo do ‘nu metal’. O anúncio da nova vocalista com certeza traria muito hate, mas lançar as músicas quase imediatamente mostrou que o trabalho tinha qualidade. Se não teve Transformers para virar trilha sonora, os jogos eletrônicos se encarregaram de aproveitar os singles lançados. Júnior Ribeiro (TCM)
GNX – Kendrick Lamar
Ele mandou muito neste álbum misturando letras pesadonas sobre identidade e sociedade com batidas que vão do jazz ao experimental. É aquele tipo de disco que, toda vez que você escuta, descobre algo novo. Mellina Passi (DJ Lita Ree @litaree__)
Happiness Bastards – The Black Crowes
Os Black Crowes retornam com Happiness Bastards, seu nono álbum de estúdio e sua primeira coleção de material novo desde 2009. Lançado em Março de 2024, este disco é uma declaração ousada de uma banda que continua a evoluir enquanto se mantém fiel às suas raízes. O simples fato dos irmãos Rich (o guitarrista) e Chris (o cantor) Robinson terem parado de se bater, parado de falar mal um do outro e cooperado o suficiente para terem escrito e lançado o primeiro disco de estúdio da banda em 15 anos, não é suficiente por si só para fazer com que Happiness Bastards mereça sua atenção. Dos acordes de abertura de “Bedside Manners” às notas finais de “Kindred Friend”, o álbum é uma aula magistral em misturar influências de Southern rock, blues e glam. O produtor Jay Joyce traz um toque novo, mas familiar à produção, aprimorando a energia bruta da banda ao mesmo tempo em que incorpora elementos sonoros modernos. Faixas como “Rats and Clowns” e “Dirty Cold Sun” canalizam o espírito rebelde dos anos 70, enquanto “Wilted Rose”, com Lainey Wilson, adiciona uma balada terna e inspirada no country à mistura. Os Black Crowes provam com Happiness Bastards que estão longe de ser um ato nostálgico. Este álbum é uma celebração de sua arte duradoura e um passo ousado para frente. O disco exige ser tocado alto e saboreado. Jean Lone, músico e produtor
Hill Country Love – Cedric Burnside
O neto do Bluesman RL Burnside vai se consolidando em sua carreira solo e perpetuando o som do Hill Country Blues e da dinastia Burnside. Cedric Burnside lançou seu 4º e ótimo álbum em 2024. Cedric, que surgiu como baterista e há um tempo toca guitarra, segue os passos do avô mas sem se tornar uma cópia. Seu estilo já é singular e merece todos ouvidos. O disco é tradicional e moderno ao mesmo tempo, assim como o som de Cedric; sempre primando pela visceralidade e groove, o que não pode faltar ao Blues. Roberto Lessa, músico
Hit Me Hard and Soft – Billie Eilish
O turbilhão após o surgimento de Billie Eilish foi tamanho que devastou tudo. Nada mais aconteceu em 2019. “ Quando todos adormecemos, para onde vamos? “ Vivi um ambiente sombrio, estranho, principalmente por levar a marca de um adolescente que, por sua vez, ao vivo era muito forte, firme, ultraprofissional. Foi um vendaval. O que quase matou a própria Eilish. A americana resolveu mudar por fora, além do loiro platinado; “ Happier than Ever ” foi um álbum com momentos altamente belos, mas quando ouvido agora é interpretado desorientado. Seu terceiro álbum é notável. “ Hit Me Hard and Soft ” responde às virtudes da sua carreira, que já não permite comparações com os seus contemporâneos. No Olimpo pop, Billie Eilish não compete com a velocidade de Olivia Rodrigo nem, claro, com a carreira consolidada do Queen Eras. Eilish cruza seus próprios caminhos. Ela reuniu tudo de bom de suas apostas anteriores para criar o álbum mais completo e variado de sua carreira. – Yeray S. Iborra (Mondo Sonoro)
Indelével – Boasorte
Simpático e melancólico álbum com nove canções de rock com um pé no pop, emulando o Ira! dos anos 80 e a saudosa e breve banda Leela nos 90. Temas tristes (cidade, caos, relacionamentos), guitarra chorosa, vibe paulistana (a banda é de lá). Vale a pena conhecer e ouvir de uma vez só. Cefas Carvalho, jornalista
Keep Me Fed – The Warning
As irmãs Villarreal seguem trilhando um caminho de sucesso e o quarto álbum de estúdio mostrou ainda mais maturidade das jovens mexicanas. O trio, iniciado em 2013, quando ainda eram adolescentes, mantém o peso e a agressividade que um bom disco de rock precisa. É um álbum em que dificilmente se pula uma música e não perde o fôlego, emendando uma sequência final sensacional com três ótimas faixas. Não à toa marcaram presença em grandes premiações ao longo de 2024. As letras seguem a mesma linha dos trabalhos anteriores, uma tocante sofrência sobre relacionamentos amorosos e crises existenciais internas e externas, além de críticas ao exagero da sociedade. Mesmo com pouca idade, a banda mexicana está a um passo do sucesso e a tendência é ser uma referência do rock nas próximas décadas. Talento não falta, e Keep Me Fed mostrou isso. Júnior Ribeiro (TCM)
Living in the Material World (50th Anniversary)– George Harrison
Como bom beatlemaníaco não poderia deixar de fora o disco de George Harrison, que teve uma edição comemorativa pela passagem dos 50 anos de sua gravação, lançada ano passado. E o faço pelo ineditismo do lançamento de versões das gravações que compuseram o disco original em 1973, takes sem muitos recursos sonoros, como o 18 de Give Me Love (Give Me Peace on Earth), somente ao violão. Nela você pode ter uma dimensão do sentimento empenhado por Harrison ao cantar esta canção de paz e amor. Já o Take 13 de That Light Has Lighted The World, ouça-a com fone de ouvido se possível. No mais o disco, em minha opinião, continua sendo uma obra-prima meio século depois. Emerson Linhares, jornalista
Mamífero Alado – Rodrigo Morcego
Assim como seu álbum anterior, Café Preto Jornal Velho o álbum traz um Blues-rock Nordestino com muito Feeling, a voz com sotaque do Morcego traz uma referência clara ao sangue Pernambucano do artista, e as letras sempre poéticas falam sobre as experiências do guitarrista, que além de solos com uma pegada maravilhosa que bota qualquer gringo no chinelo, tem um timbre extremamente bem produzido pra cada faixa do álbum. Chama muita atenção o psicodelismo e experimentalismo, trazendo o Blues para uma verdadeira renovação que não se preocupa apenas com fraseado de guitarra e solos impressionantes, e sim o trabalho das canções, que faz com que o álbum seja de uma música de vanguarda e não mais do mesmo, de um estilo já tão explorado com cópias das cópias das cópias. Felipe Cazaux, músico cearense
Novela – Céu
Fã de longa data da cantora paulista, ouvi com atenção e deleite esse novo trabalho. Céu já havia mostrado discos ótimos como o que leva seu nome, de estréia em 2005 e o Tropix, de 2016. Neste novo, ela se supera em todos os aspectos. É um álbum coeso e belo, sem pontos baixos, com equilíbrio entre letra e melodia, temática e batida. O disco abre com a pop-swingada “Raiou” e continua no ritmo com “Cremosa”. A partir daí flerta com a suavidade (nas belas “Geraldo na alta” e “Buá buá”), com destaque para “Crushinho” e “Into my novela”, ambas bem sexy. Em “Lustrando estrela” e “Corpo e colo” a cantora e compositora remete aos seus trabalhos passados, para fechar com outro pop esperto e cheio de ritmo, a ótima “Reescreve”, que lembra Letrux. Enfim, doze músicas de qualidade que funcionam maravilhosamente bem como uma coisa só, em um ponto alto da música brasileira em 2024 e que vai ficar. Cefas Carvalho, jornalista
One Guitar Woman – Sue Foley
A guitarrista, cantora e compositora canadense Sue Folley nos brindou com esse excelente disco em 2024. Dessa vez, Sue deixou sua pink telecaster de lado e fez um disco internamente tocando violão e cantando. Como ela mesma frisou, o disco é uma homenagem às mulheres guitarristas pioneiras do Blues como Memphis Minie e Elizabeth Cotten. Vale muito a pena ouvir essa homenagem de Sue. Roberto Lessa, músico
Olho Falso (singles) – Olho Falso
Olho Falso é uma nova banda de Fortaleza, que bebe das fontes do Stoner e Rock Clássico, cantando em Português a banda traz artes maravilhosas do baterista Jorge Sobreira que lidera a banda ao lado do Guitarrista Daniel Cajado, com solos e Riffs muito bons, rock do melhor estilo, agressivo e ao mesmo tempo acessível para ouvidos menos acostumados. A banda tem lançado singles constantemente, ainda não tendo um álbum completo, o single Eu/Você é muito legal e vale a pena conferir e conhecer o trabalho dos caras. Felipe Cazaux, músico cearense
Oproprio – Yago Oproprio
Um dos melhores discos do ano , o rap de Yago Opropio veio com misturas de sonoridades mostrou um crescimento grande do artista. Jomardo Jomas, produtor (Mada)
Pedra de Selva – Curumim
É o rei do groove de São Paulo, um cara icônico. Este disco é muito bom, poderoso, letras fortes, levadas incríveis. Anderson Foca, produtor (DoSol)
Queda Livre – Caxtrinho
“Queda Livre” é o disco de estreia de Caxtrinho, músico carioca da baixada fluminense, que traz um novo frescor pra música com sua letras e produção primorosas. O disco tem humor, tem sagacidade, sarcasmo e é, ao mesmo tempo, profundo e divertido. As músicas de Caxtrinho se sustentam com o talento do músico, mas o disco, que saiu pelo selo QTV, reuniu diversos nomes de peso em sua sonoridade com a produção de Eduardo Manso e Vovô Bebê, participação de Negro Leo e Ana Frango Elétrico, além de uma parceria com o paulistano Rômulo Fróes, “Samba Errado”. Pérola Mathias (Poro Aberto e Folha de S. Paulo)
Romance – Fontaines DC
ROCK / O quarto álbum da banda de Dublin os levou para a XL, gravadora do Radiohead e de seu querido The Prodigy . Um peso pesado cuida da parte técnica: James Ford (Arctic Monkeys, Blur). Tudo isso certifica que alcançaram outro nível. Sucessores de grandes bandas de guitarra que conciliam qualidade artística e interesse de massa, deixam claro: o quinteto (hoje sexteto ao vivo) mira alto e acerta. Porque mesmo estando relativamente longe do imediatismo retro punk de sua maravilhosa estreia, “Romance” é seu álbum mais completo e arredondado. O título faz jus às músicas impregnadas de drama, violões, cordas e sons sintéticos pontuais, tendo como auge “In The Modern World”, em que a voz de Grian Chatten, que canta com mais autoridade do que nunca, e os coros ao redor eles alcançam o céu. Longe da apatia ou do fatalismo, transmitem uma vitalidade contagiante, uma fome de vida que é parte essencial do seu encanto. Em “Starburster” optam pela contundência rítmica futurista com resultados muito convincentes, e embora o falsete de “Here’s The Thing”, tão anos 90, me soe um pouco forçado, acrescenta à narrativa de uma obra que une a voz de. Grian e o espírito inquieto da banda. Quer sejam evocativas como na majestosa “Bug”, abertamente teatral (“Motorcycle Boy”) ou sombria (“Death Kink”), as melodias vocais de Grian alcançam a maestria e Ford faz a instrumentação brilhar com mil nuances. É impossível terminar melhor do que com as melodias eufóricas e melancólicas de “Favourite”, cujo imediatismo brilhante evoca os seus compatriotas cult Power Of Dreams. É curioso como a atual estética excêntrica do grupo em vídeos e fotos lembra o caos do início dos anos noventa; Na verdade, o que torna Fontaines grande, além de sua capa muito moderna, é a facilidade de conectar o melhor do passado a partir do presente. JC Pena (Mondo Sonoro)
Saudade Solar – Igor Colombo
Saudade solar, de Igor Colombo, é um álbum grandioso e variado. Infelizmente, por não estar aliado a nenhuma linha musical da grande mídia ou das mídias alternativas, ficou restrito a um público seleto. Já realizei uma resenha longa e pormenorizada sobre o registro, do qual destaco os seguintes tópicos: (1) apresenta uma temática tocante e complexa sobre a morte de uma pessoa amada, em um caldeirão de sentimentos e referências da música brasileira; (2) conta com um time espetacular de músicos; (3) abundam referências de ausência, melancolia e fragilidade, mas também de esperança; (4) é musicalmente e poeticamente refinado. Não adianta tentar explicar muita coisa, apenas desfrute das 12 faixas em sequência e deixe que a música fale por si. Por fim, cabe ressaltar que Igor é meu irmão, e compartilha comigo muitas preferências musicais; estas são aqui levadas a altos níveis de expressão, graças à genialidade do artista. Renan Simões, professor de Música da Uern e crítico
Se o Meu Peito Fosse o Mundo – Jota.pê
Jota Pê, indiscutivelmente um dos grandes compositores dessa nova geração e merecedor de todos os prêmios e reconhecimento que vem ganhando na sua carreira. Jomardo Jomas, produtor (Mada)
Sounds Of Green And Blue – The Lunar Effect
O segundo disco do quarteto britânico Luna Effect, “Sounds Of Green And Blue”, é mais que um coleção de rock stoner ou uma evolução do primeiro trabalho, mais focado no blues. A entrada do vocalista Josh Neuwford fez toda a diferença. Basta perceber sua performance na segunda faixa, “Flowers For Teeth”. Sua voz vagueia em meio a riffs poderosos que remetem ao melhor da sonoridade setentista, com incrementos renovados. “Middle Of The End” abre com teclados tensos, assim como “Fear Before the Fall”, com linhas melódicas de ouvir chorando e que vai crescendo até ganhar maior intensidade. Discão coeso, atemporal sem cair na armadilha da nostalgia. William Robson, Bolsa de Discos
Songs of a Lost World – The Cure
Muitos colocam este disco como o melhor do Cure, desde “Desintegration”, de 1989. “Songs of a Lost World” nasceu em 2024 como obra-prima, um passeio melancólico e experimental de Robert Smith. Também um relato angustiante que permeou a vida do vocalista e compositor do álbum (a morte do irmão e dos tios). Aqui, Smith se apresenta reflexivo, com músicas estruturadas de forma homogênea e surpreendente. O clima do disco é soturno, batidas eletrônicas em grooves punitivos desenvolvidos por Jason Cooper complementam a ambiência sonora que parece buscar o que há de mais visceral nos sentimentos de Smith. “Songs of a Lost World” reúne oito músicas que, em boa parte, supera facilmente os cinco minutos. Introduções longas que soam como viagem psicodélica e vocais contundentes. “Alone” abre dando tensão para o disco. “Drone:Nodrone” traz uma guitarra carregada e é a mais tensa; ”I Can Never Say Goodbye” tem um piano visceral e “Endsong” é uma despedida aflita. William Robson, Bolsa de Discos
TANGK – Idles
Os britânicos IDLES reinventam-se num álbum em que predominam ritmos e atmosferas calmas. Em um nível puramente sonoro, o álbum soa tremendo. Não há dúvida de que vários dos cortes deste álbum tornarão a devastadora performance ao vivo dos britânicos uma experiência ainda mais rica. JC Pena (Mondo Sonoro)
Tempo – Monique Nascimento
“Tempo”, da baiana Monique Nascimento foi de cara um dos discos que mais me tocou em 2024 por causa de seus arranjos delicados, da percussão suave e por marcar um tempo em que a música baiana se aventura na criação. O resultado final é um jazz sutil que flui em harmonia com uma rica variedade de ritmos, como a coladera, o samba-reggae, samba e blues. A produção foi assinada por Sebastian Notini, responsável por “Um Corpo no Mundo”, de Luedji Luna, e a gravação, a artista conta com uma banda composta por grandes talentos de Salvador, como Felipe Guedes e Ldson Galter.
Um detalhe final que merece ser destacado em ambos os discos: suas capas. A de Caxtrinho é assinada pelo artista plástico Arjan Martins e a de Monique traz uma tipografia que traduz sua música. Pérola Mathias (Poro Aberto e Folha de S. Paulo)
The Loneliness of Carers – Gimu
Entre 2010 e 2022, Gimu lançou 64 álbuns e EPs, alguns em parceria, e muitos lançados em formato físico (CD ou K7). No final de 2024, após um hiato de mais de dois anos, o artista nos presenteou com o eletrizante The loneliness of carers. Segundo o texto de lançamento, disponível na página de Bandcamp da Confusão Records, a temática é a da “solidão sentida no ato de abdicar de si para cuidar do outro” – entretanto, cabe pontuar que não se trata de música cantada. Para quem não é acostumado com a música ambient e drone, o álbum soará estranho. Para quem não é do noise, como eu, algumas faixas serão ruidosas demais. De toda forma, este registro traz momentos memoráveis, flechadas certeiras no coração, com títulos tocantíssimos: I dragged you into the tunnel at the end of the light, I remembre fun e The self exile of the self. O fechamento do ciclo se dá com For your volcanoes, love, um lamento sofrido com mais de 20 minutos de duração. Renan Simões, professor de Música da Uern e crítico
Two Star & The Dream Police – Mk.gee
O álbum de estreia de Mk.gee, Two Star & The Dream Police, é uma jornada hipnotizante através do lirismo introspectivo e paisagens sonoras intrincadas, solidificando seu lugar como um dos artistas emergentes mais atraentes de 2024. Lançado pela R&R, este projeto de 12 faixas é uma aula magistral em misturar profundidade emocional com produção que desafia o gênero. Admirado por ninguém menos que Eric Clapton que disse em uma entrevista recente: “É único. Ele encontrou coisas para fazer na guitarra que ninguém mais faz.” O álbum abre com “New Low”, uma faixa que define o tom com sintetizadores brilhantes e uma linha de baixo carregada de groove, convidando os ouvintes para o mundo de Mk.gee. Faixas como “How Many Miles” e “Are You Looking Up” mostram sua habilidade de fundir indie pop com melodias infundidas em R&B, criando um som nostálgico oitentista e refrescantemente moderno. O single de destaque, “Dream Police”, encapsula o núcleo temático do álbum: uma exploração de sonhos, dúvidas e a psique humana. Com Two Star & The Dream Police, Mk.gee entregou uma estreia que é ambiciosa e profundamente pessoal. É um álbum que exige ser experimentado como um todo, com cada faixa contribuindo para um arco narrativo maior. Um álbum imperdível para qualquer um que esteja buscando uma arte autêntica e que ultrapasse os limites. Jean Lone, músico e produtor
Uma Estrela Misteriosa (Revelará o Segredo) – Nando Reis
Um disco quádruplo com 26 músicas. “Uma Estrela Misteriosa (Revelará o Segredo)” não é excessivo, nem enfadonho. É a nítida demonstração da criatividade de um sóbrio Nando Reis, transitando por baladas, rocks e romantismo, características do ex-Titã. Nando enfrentou o mercado ao lançar este álbum em quatro LPs que podem ser adquiridos separadamente ou em um box (com um disco bônus). O álbum abre em alto astral com “A Chave”. Um pouco mais adiante, vem a delicadeza de “Azul Febril”. “Terra em Flor” traz um maravilhoso groove do Peter Buck (sim, o guitarrista do R.E.M., que toca no disco todo). “Ginger e Fred” é rockão. “Macapá” destaca uma balada com acordes que se repetem em arranjos combinados com uma levada suingada da bateria do Barrett Martin (sim, aquele do Screaming Trees). Os metais de “Corpo e Colo” e os violões de “Firmamento” são as outras ótimas surpresas que surgem ao longo da audição. William Robson, Bolsa de Discos
Ultrasound – Palace
O álbum Ultrasound de 2024 do Palace é uma jornada profundamente emocional e sonoramente rica que consolida o lugar da banda como um dos atos mais pensativos e evocativos do rock alternativo. Lançado em 5 de abril de 2024, este disco de 13 faixas explora temas de perda e cura, inspirando-se em experiências pessoais, incluindo as reflexões do vocalista Leo Wyndham sobre aborto espontâneo e resiliência: “O álbum é a jornada dessa experiência – começando com uma perda, depois um período de processamento e, finalmente, aceitação, liberação e crescimento. E ficar maravilhado com as mulheres dentro disso. Sua dignidade, força e coragem em como elas podem lidar com essas coisas que parecem além de um homem”. O álbum abre com “When Everything Was Lost”, estabelecendo um tom reflexivo com cordas exuberantes e percussão discreta. Singles como “Bleach”, “Son”, e “Rabid Dog” entregam as paisagens sonoras oníricas características do Palace, misturando as letras pungentes de Wyndham com trabalho de guitarra e produção ambiente. “Nightmares & Ice Cream”, uma faixa de destaque, captura a habilidade da banda de justapor luz e escuridão, tecendo temas de turbulência interna e nostalgia agridoce. O interlúdio instrumental “Cocoon” serve como um momento de introspecção, dividindo o álbum em duas metades que refletem a evolução da tristeza do desespero à aceitação. Ultrasound do Palace é um triunfo — uma exploração sincera da dor e da perseverança que ressoa profundamente, um testamento da arte da banda e seu comprometimento em usar a música como um meio de conexão e cura. Jean Lone, músico e produtor
Volta da Jurema (singles) – Volta da Jurema
Volta da Jurema é uma dica Hardcore, banda de Parnaiba no Piauí. Traz suas vivências em suas letras, tem a produção excelente de Rafael Bombeck (ex Pavilhão 9) e faz um Hardcore nervoso, anti fascista, com muitas críticas sociais e políticas. Com solos interessantes e participação de veteranos do PUNK nacional como Jão (Ratos de Porão). A banda busca por paz e valoriza suas terras e cultura nas suas letras, como eles mesmo dizem, Parnaiba é “Melhor que Paris”. O Ep tem 6 faixas nervosas que agradam qualquer fã de Hardcore e Crossover. Felipe Cazaux, músico cearense
Wall of Eyes – The Smile
Nas férias do Radiohead, o vocalista/tecladista Thom Yorke e o guitarrista Jonny Greenwood se juntaram com o baterista Tom Skinner (do grupo de jazz Sons of Kemet) para o segundo álbum do projeto The Smile. Nele, o ouvinte pode testemunhar avanços na proposta inicial do trio, mas com toda paranoia, desolação e psicodelia do primeiro álbum. Especialistas na construção de estados alterados de consciência, Yorke (um melodista admirável, além de cantor capaz de exprimir toda angústia do mundo com seu falsete) e Greenwood (guitarrista que expandiu sua criatividade para a orquestra, em trilhas para os filmes de Paul Thomas Anderson) encontraram na liberdade jazzística de Skinner uma forma de enveredar por caminhos — de prog e jazz — pouco percorridos pelo Radiohead. Silvio Essinger (O Globo)
Wild God – Nick Cave & The Bad Seeds
O duelo acabou. Ou foi esmaecido, porque nunca desaparecerá completamente. Mas a alegria, a alegria, a ilusão voltou. O luto fica para trás. Este décimo oitavo álbum de Nick Cave & The Bad Seeds passa pelas telas e inaugura uma nova era em sua carreira, embora ainda reste algo de seus antecessores imediatos. – Carlos Pérez de Ziriza (Mondo Sonoro)
Y’Y – Amaro Freitas
Mais um grande álbum da discografia impecável do pianista. Diferente dos outros três álbuns de Amaro Freita, Y’Y me impressionou por ser um disco que soa como uma sinfonia amazônica. É como se Amaro tivesse erguido uma ponte que liga a África à Amazônia. O disco tem uma dimensão espiritual forte. Mauro Ferreira (G1)
Em menos de dez anos, o jovem pianista saiu de uma igreja evangélica da periferia do Recife para os principais palcos do jazz do mundo. E “Y’Y”, seu quarto álbum, dá indicações de que ele ainda vai mais longe, em uma imersão no universo amazônico, que envolve um mergulho na floresta, nos rios e, por fim, no oceano. Mas, além de recriar musicalmente a selva majestosa, o disco acabou sendo, nas palavras de Amaro, “uma celebração da diáspora africana que reverberou de formas diferentes em cada lugar”. Reunindo estrelas do novo jazz, como o guitarrista americano Jeff Parker, o flautista inglês Shabaka Hutchings e a harpista americana Brandee Younger, o pernambucano fez um disco brasileiro, internacional e intergaláctico. Silvio Essinger (O Globo)
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