Você está diante dos melhores discos lançados em 2023 na opinião de críticos e especialistas selecionados pelo Bolsa de Discos. São jornalistas com fortes ligações culturais, músicos, produtores e críticos de importantes veículos do país. Os discos foram dispostos em ordem alfabética, já que não há um ranking entre eles. Além disso, o BDD disponibiliza o acesso para streaming para que você possa ouvir e tirar suas conclusões.
Após a publicação da seleção integral no site, a partir do dia 1 de janeiro, o Instagram do BDD vai destacar cada disco, diariamente. Ao todo são 28 análises, três a mais que o previsto inicialmente. Elas entraram de última hora, no soar do gongo, e não poderiam estar de fora.
A New Tomorrow – Zulu
Como é bom encontrar novidades em gêneros tão batidos como hardcore ou crossover. Porque, apesar de impregnados das coordenadas clássicas destes estilos, a estreia destes angelinos não se limita exclusivamente a gritar algumas verdades, mas antes utilizam este gênero para moldar um manifesto filosófico baseado na abertura de espírito e na reivindicação cultural. Um manifesto cuja banda sonora agressiva e progressiva permite referências ao soul, ao chi-hop, à palavra falada e até ao reggae. Adriano Mazzeo (Mondo Sonoro)
Arte Bruta – Bike
Entre discos legais do universo do rock psicodélico brasileiro contemporâneo, vamos começar por esta banda que já dá para chamar de veterana. Cinco discos para o pessoal do Bike. “Arte Bruta” é o nome, produzido por Guilherme Held, produtor, guitarrista importante e presente em muitas gravações e parceiro do Lanny Gordin. Fez um belo trabalho neste quinto disco da banda. Muitas referências no rock psicodélico, repertório em português e carpintaria das boas nas composições. Tem um pouco daquele folk mais freak, tem a parte mais ácida e os Mutantes continuam sendo uma das principais referências. A banda já tocou lá fora e está sempre produzindo e chega a marca do quinto disco com um trabalho de altíssima qualidade. Até parece ontem que eu estava ouvindo o primeiro cassete deles. Fábio Massari (KZG)
Azul Catástrofe – DEB
Um disco de rock de uma banda brasileira que já acompanho há bastante tempo: DEB (ex-Deb and The Mentals). Já curti enquanto platéia algumas vezes e operei o som do palco do Festival Dosol que era de frente ao que eles tocaram. Assisti de camarote, mas vamos ao disco, já que a introdução já foi feita, e agora é outro nome, outra banda e um discaço de estréia. Vocal feminino no estilo riot girls, aquela veia MUITO PULSANTE dos anos 90, mais precisamente na praia do som de Seatlle e arredores, com influências de todas as incríveis mulheres da Babies in Toyland, The Breeders, L7, Sonic Youth, até mesmo uma Veruca Salt de vez em quando soando aqui e acolá. Uma sonzeira incrível cantada na língua pátria, no estilo que prefiro, cada instrumento destruindo no seu lugar, um power trio, com a Deb comandando. Não dá pra não notar uma veia pop, com melodias que entram e trazem aquele efeito de ter que escutar de novo a música, e assim, se escuta o disco todo ligeirinho. E, claro, que vou eleger a minha preferida: “Covarde Ocasião”, aquele rock, cada um entrando na sua vez, e refrão curto e explosivo, asmei. Agora indo para a produção, toda feita no estúdio Costella, do renomado e muito competente Alexandre Capilé (Fernando Sanches foi engenheiro nas sessões do estúdio El Rocha), mixagem de rock, primorosa, muito punch, timbres muito claros, realmente, um disco pra se ouvir de cabo a rabo, pra lavar louça, correr, ou naquela festa 30+, que sempre tem o tiozão ou tiazona, colocando um grunge pra dar um trago ou um gole. Rafaum Costa, músico e produtor
But Here We Are – Foo Figthers
“But Here We Are” é um álbum de luto e de extrema revolta. É o primeiro trabalho do Foo Fighters após a morte do baterista Taylor Hawkins, em 2022, e o décimo da banda. A alma de Dave Grohl está nas baquetas e exala o seu pesar por toda a extensão do disco. Os dramas de Grohl em 22 estão marcados por Hawkins e por sua mãe, Virgínia, também falecida no ano passado. O disco trata destes momentos. “Under You” é um diálogo: “Todo esse tempo ainda parece ontem que eu andei um milhão de milhas com você. Superando. Acho que estou superando. Mas não tem como superar isso”. E nessa pegada, “Hearing Voices” traz uma bela linha de baixo no melhor estilo Foo Fighters; a faixa-título expõe a resiliência da banda, alternando grooves na bateria com peso e dinâmica. “Rest” é grito de desabafo em meio à toda turbulência: “Amor e confiança. A vida é apenas um jogo de sorte. Todo esse tempo nos escapa. Até que ele termina”. William Robson (BDD)
Coração Bifurcado – Jards Macalé
Para mim, um dos grandes discos de 2023 é “Coração Bifurcado”, de Jards Macalé, que fala de amor “da cabeça aos pés”. Aos 80 anos, Macalé mostra-se um músico produtivo, inovador, conectado e, sobretudo, muito sensível. Há parcerias dele com o poeta José Carlos Capinam, parceria antiga e histórica, mas também com nomes de compositores de gerações mais novas, como os paulistas Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Rômulo Fróes – nomes estes com os quais já havia trabalhado no álbum “Besta Fera”. A música que dá nome ao disco é um samba duro pra Exu. Já das letras de Rodrigo Campos, Macalé dá vida às crônicas que ficam entre o samba e o blues. Com Alice Coutinho, uma das principais letristas contemporâneas, ele revolve a história da bossa nova em metáforas. Há ainda Maria Bethânia, faixa interpretada por Nara e Ná Ozetti. Pérola Mathias (Poro Aberto/Folha de S. Paulo)
Cycles of Pain – Angra
Sempre que o Angra lança um novo disco, fico imaginando o nível de paciência dos músicos. Para uma banda que tem uma parcela de fãs que se obriga a ficar no passado, divagando sobre o que poderia ter sido e querendo emular o que outrora já foram, eles são ousados em sempre buscar acrescentar coisas novas e experimentar. O terceiro disco com o vocalista Fabio Lione deixa ainda mais petrificado essa nova fase da formação. Mas o tradicional continua lá. Tem power, tem prog, tem speed, tem baladas e tem o que mais me chama atenção: ritmos e elementos da música brasileira incorporados ao estilo erudito que a banda trouxe desde o Angels Cry (1993). Todos os membros da banda se destacam em algum momento do álbum. Há canções inspiradoras e canções para bater cabeça. Tem criatividade e coragem, mesmo com alguns altos e baixos a depender do gosto. Como o próprio título fala: são ciclos. Particularmente só não gostei da capa… Júnior Ribeiro (TCM Telecom)
Decreation Facts – Firefriend
Outra vertente do rock psicodélico brasileiro vem na representação do Firefriend. Banda veterana (no meu livro “Mondo Massari”, de 2013, já traz uma entrevista com eles de alguns anos antes e já era uma banda que, na minha opinião, estava numa trip muito particular). Os caras continuam na ativa, trabalhando muito e lançaram no começo deste ano “Decreation Facts”, o décimo trabalho. Eles lançam muitos álbuns aqui e lá fora. O Yuri Hermuche (guitarras e voz) é um cara que está sempre produzindo, escreve livros, incluindo um chamado “Rock´n´Roll”, que trata do cenário dos anos 90. Neste ano, lançam um disco que conta a história discográfica do Firefriend. De qualquer maneira, visite as páginas da banda, escolha qualquer disco e mergulhe de cabeça, porque é uma psicodelia de matriz velvetiana. Pessoal muito eficiente. Bela banda. Fábio Massari (KZG)
Desert Memories – desert sand feels warm at night & MindSpring Memories
Em setembro de 2023, me surpreendi com um álbum colaborativo entre desert sand feels warm at night e MindSpring Memories, dois dos nomes mais importantes do slushwave. Sou um grande fã de MindSpring Memories, bem como de outros projetos de Angel Marcloid (Fire-Toolz, um caos ultra moderno/extremo/eclético, e Nonlocal Forecast, um compêndio de excentricidades musicais), e este lançamento é mais um grande feito da artista. Identificamos, no registro, as assinaturas típicas do slushwave: músicas longas, ênfase em poucos elementos musicais, tempo arrastado, ambiência onírica e nostalgia torturada. 𝓒𝑜𝑔𝓃𝒾𝓏𝒶𝓃𝒸𝑒 e 𝓒𝓁𝑜𝓈𝒾𝓃𝑔 𝓣𝒽𝑒 𝓑𝑜𝑜𝓀 são os destaques mais comoventes dessa viagem sonora, e tecem um discurso libertador e unificado junto a outras cinco faixas, compreendendo a trilha sonora perfeita para o mundo distópico em que vivemos. Por fim, este álbum foi uma escolha fácil como meu preferido de 2023, visto que desconsiderei outros grandes favoritos, por se tratarem de coletâneas (Rainforest Hill, Vol. I + II, de Lindsheaven Virtual Plaza, brasileiro falecido precocemente, e 家族. 劳动. 쇼핑. – 猫 シ Corp. ‘Selected Works’, de 猫 シ Corp), e porque os outros que me impactaram não chegam à grandiosidade desse (o EP An Object in Motion, do Drab Majesty, os novos álbuns de Slowdive, Idlibra, Leves Passos e DJ K (os três últimos, brasileiros), ou a parceria entre cabezadenego, Leyblack e Mbé, que conheci no mesmo dia em que escrevi esse texto. Renan Simões, crítico e professor de música (Uern)
Fuse – Everything but the Girl
Uma espera de mais de duas décadas não foi em vão. O duo do Everything but the Girl, Tracey Thorn e o produtor Ben Watt, aporta com “Fuse”, o décimo-primeiro trabalho de atmosfera eletrônica com altíssimo grau de excelência. Soa intimista (“Run a Red Light”, “Lost”), consolida seu flerte com o pop (“No One Knows We´re Dancing”), mas convida para um universo vasto do tecnopop muito bem arranjado e com variadas experimentações, que se unem esteticamente. É como se a dupla buscasse homogeneidade em diversas reflexões. “Karaoke” levanta um paradoxo: “Você canta para curar os corações partidos. Cara na parede? Ou você canta para começar a festa? Ou não canta?”, problematiza Thorn. Por isso, é um discão para dançar e pensar. William Robson (BDD)
In Times New Roman… – Queens of the Stone Age
Considero 2023 um ano dificílimo para a escolha de um “melhor álbum” internacional. Ao que parece estamos vivendo o ápice da transição entre os velhos figurões do Rock mundial e os novos nomes que estão surgindo. Se há alguns anos era praticamente impossível ver discos de música Pop ou eletrônica transitando entre os melhores do ano, agora essa é quase que uma constante. Eu prefiro jogar em um terreno seguro e conhecido. O QOTSA apresenta um disco sólido, gostoso de ouvir, bem tocado. Guitarras cheias de “blues” e de charme. Em nada é inovador ou revolucionário, pelo contrário, repete a fórmula de sucesso que consolidou a banda e é uma boa volta após o hiato de seis anos de das várias polêmicas envolvendo o instável Josh Homme. Destaque no disco para a excelente faixa de abertura, “Obscenery”, para a emocionante “Negative Space”, além das ótimas guitarras de “Paper Machete”. Cláudio Palheta (Clube do Vinil)
Kimosabè – Dope Lemon
“Kimosabè” esboça um efeito tranquilizador, quebrado por evoluções que demonstram a extrema habilidade de Dope Lemon, pseudônimo de Angus Stone, uma das maiores representações indies australianas que mantém trabalho coeso com sua irmã, Julia. Dope oferta inúmeros tentáculos de possibilidades ao folk sem gerar sobressaltos. Aliás, esta foi a sua proposta, cumprida aqui à risca. Gerar um universo sonoramente sintético, com paisagens hipnotizantes, que rompem com o que você entendia por folk até então. “Golden God” traz esta pegada. Mas, em “Miami Baby”, o single que precedeu o lançamento do disco, tem a cara mais palatável, a porta de entrada para ouvidos ortodoxos. Se deixar o álbum seguir, cai em “Just You & Me”, ingressando de vez no torpor. William Robson (BDD)
London Ko – Fatoumata Diawara
A super-heroína marfinense de origem maliana retoma o seu caminho de reivindicação e música total e fá-lo com a ajuda de Damon Albarn, demonstrando mais uma vez que a sua parceria dá ótimos resultados, cristalizando uma simbiose que resume muito o encontro de dois representantes de culturas distantes. Albarn co-produz e aparece nos créditos de seis das quatorze músicas e contribui para uma obra muito fácil de ouvir, não por uma questão de simplicidade, mas mais pelo fato de que os diferentes climas e também o grande elenco de hóspedes convidam você para uma viagem de valor cultural. Adriano Mazzeo (Mondo Sonoro)
“Mr. Engineer”, “How Long is Forever”, “I lived in the city” e “Catfish Blues” – Roberto Lessa
O músico Roberto Lessa é um patrimônio do Blues do Nordeste, seu conhecimento do assunto é inegável, sendo um dos maiores pesquisadores do gênero no Ceará. Há algum tempo Roberto tem lançado uma série de singles, em 2023 não foi diferente, lançou durante o ano quatro singles incríveis para quem é apaixonado pelo estilo, “Mr. Engineer”, “How Long is Forever”, “I lived in the city” e uma releitura excelente do clássico “Catfish Blues”. Vale demais conhecer o trabalho desse bluesman cearense. Felipe Cazaux, músico
Música do Esquecimento – Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo
A Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo lançou o maravilhoso “Música do Esquecimento”, meu álbum preferido de 2023. Eu tenho enorme simpatia por artistas fora da caixa que conseguem encaixar doideiras em linhas pop, que é o que a banda faz muito bem nesse trabalho. Para além dos arranjos maluquetes, o grande destaque da bolacha é a sagacidade nas letras e na sonoridade sofisticada do começo ao fim. Uma audição atenciosa melhora muito o entendimento do disco e, ao vivo, amplia ainda mais os horizontes desse grande álbum. 10 de 10, Sophia. Anderson Foca (DoSol)
Negra Ópera – Martinho da Vila
Martinho da Vila é um clássico absoluto. Fruto da majestade do samba brasileiro e um dos maiores artistas do país, sem sombra de dúvidas. Em 2023 o cantor emocionou com o álbum “Negra Ópera”, uma grata surpresa em diversos aspectos. Lançado em 13 de maio, data em que se rememora a abolição da escravatura no Brasil, o disco celebra os 85 anos de Martinho. Ele, que apresenta uma condição vocal impecável, aventura-se em velhas (e novas) canções, apresentando versões intimistas (e até mesmo dramáticas). Uma verdadeira ópera em forma de samba. O destaque do disco (que é todo delicioso, à propósito) vai para “Acender as velas”, samba de Zé Ketti, cantado aqui em parceria com Chico Cesar e que ganhou um clipe lindíssimo. Cláudio Palheta (Clube do Vinil)
Now and Then – The Beatles
A grande surpresa de 2023 foi o lançamento de Now and Then, da banda The Beatles (sou suspeito! – risos). Apesar de não ser um disco completo, a faixa integra um EP com Love Me Do, bem como está contida no relançamento das conhecidas coletâneas vermelha e azul da banda de Liverpool, originalmente lançadas em meados dos anos 70 do século passado. Now and Then colocou The Beatles, extinta desde 1970, no topo da parada britânica, mexeu com os sentimentos de muitos beatlemaníacos ao ouvir a voz de John Lennon com a de seus ex-companheiros de banda, e com certeza deve ter despertado a curiosidade de muitos jovens que sequer ouviram falar no quarteto ou nunca tinham prestado a atenção devida. Então, Now and Then é o melhor do mundo musical em termos de lançamento em 2023. Emerson Linhares, jornalista
O Caminho do Meio – Fractal
2023 foi um ano repleto de lançamentos, bons discos e audições curiosas de misturas que ninguém acreditava ser possível e a que eu posso destacar é o Projeto Fractal e seu misto de budismo com groove metal. Composto pelo vocalista Rafhael Jorge que, para mim, é um dos maiores compositores do cenário atual, e o guitarrista Guilherme Adriano, o Projeto Fractal nos contemplou este ano com o trabalho de estreia, “O Caminho do Meio”. O álbum é misterioso, soa como algo verdadeiramente místico e assombroso, mas traz mensagens importantes explorados em meio à intensidade do metal, mas com a calmaria do budismo. O timbre rasgado do Rafhael Jorge presenteia ao ouvinte uma característica enigmática, uma hora um vocal rasgado e outrora um vocal robusto e sinérgico. A parte instrumental não se contenta em fazer o feijão com arroz. Traz algo estridente, robusto e um riff gostoso de ouvir. A intensidade das músicas são presentes do começo ao final e trazem com naturalidade um som coeso e objetivo. Contemplando ainda com o peso da bateria que me chama muito a atenção e a inveja de querer fazer um som nessa pegada, confesso, e o baixo como se fosse um vulcão em erupção borbulhando em sinergia ao instrumental. Maykon Kjellin (site O Subsolo)
Phantomime – Ghost
Numa análise dos melhores discos do ano, não poderia deixar de puxar a sardinha para o meu lado, porque um certo mascarado da Suécia resolveu lançar um EP com cinco releituras de clássicos do rock, do heavy e do pop. Tobias Forge concebeu Phantomime como um disco de covers que espelharia o Impera (2022) com dez músicas. Porém, com o sucesso do disco, ele resolveu adiar a produção e lançou um EP com apenas cinco das dez faixas selecionadas. “See No Evil”, do Television, “Jesus He Knows Me”, do Genesis, “Hanging Around”, dos Stranglers, a ótima “Phantom of the Opera”, do Iron Maiden, trocando o eu-lírico da música, fazendo uma releitura sob a ótica do fantasma, e a maravilhosa “We Don’t Need Another Hero”, da eterna Tina Turner. Forge conseguiu criar cinco ótimas releituras e reimaginar canções clássicas com aquele leve toque satânico e cínico que só ele conseguiria. Porque se dois homens entram e apenas um homem sai, certamente o Papa Emeritus IV ganharia na cúpula do trovão. Detalhe: a outra parte teria covers do Motörhead, Misfits, U2 e Rush. Júnior Ribeiro (TCM)
Pé no Peito – Lucas MVS
Sem dúvida o lançamento mais importante da música de Mossoró vem da cena hip hop. Longe das grandes produções e do ciclo cultural do mainstream local, o rapper Lucas MVS lançou o single Pé no Peito acompanhado por um clipe formidável. A produção atingiu recentemente 1 milhão de visualizações no instagram e recebeu a crítica positiva de vários portais especializados em todo o Brasil. Para além da letra e dos beats, Pé no Peito e Lucas MVS deixam um recado claro para a cena de Mossoró: o que há de melhor e mais inovador na música da cidade vem de fora do “corredor cultural” e de bem distante da “João da Escóssia”. Cláudio Palheta (Clube do Vinil)
Purge – Godflesh
Numa época de tendências absurdamente efêmeras, a dupla de Birmingham liderada por Justin Broadrick mantém o seu rumo inalterável, livre de interferências, e o melhor de tudo é que ao fazê-lo também mantém intacta a sua singularidade. “Purge” (92) constitui, segundo a própria banda, uma revisão dos conceitos e sonoridades exploradas no seu célebre “Pure”. Uma atualização, três décadas depois, que reúne elementos conhecidos, mas não menos estimulantes: baterias eletrônicas breakbeat, guitarras cortantes, samples e atmosferas opressivas. David Sabate (Mondo Sonoro)
Rizoma – Austin TV
A banda é do México e desde 2001 desfila seu rock instrumental de uma forma muito peculiar, é como se fosse o Yo La Tengo, sem voz, mas com uma sonoridade realmente agradável para o ouvinte. Conheci a banda na época da pandemia, mas o que me chamou a atenção foi uma apresentação que assisti no canal KEXP, todos eles mascarados, tocando post-rock/rock alternativo, talvez um dos sons que mais preenchem o ouvido desse que vos escreve. O Rizoma, foi lançado em setembro por completo, mas anteriormente na estratégia de singles, curto também. Porém, vamos falar do disco todo, que começa com a dramática “Todo Final Es También un Comienzo”, com tecladinho bem minimalista, massa demais toda forma que o arranjo vai se desenrolando durante o decorrer da música (foda!). “Reflejo Infinito”, segunda música, tem uma veia muito legal do post rock, com dedilhado bem repetitivo, e que leva a música para outro universo no refrão (sei nem se é refrão, mas é uma parte diferente), e como todo post rock que se preze, cresce demais num prelúdio até o fim da música. Incrivel. Rafaum Costa, músico e produtor
Scaring The Hoes — JPEGMAFIA & Danny Brown
O primeiro projeto colaborativo destes soberanos do hip hop experimental é uma viagem de adrenalina, uma vertiginosa perseguição de carro no submundo. A velocidade é um elemento-chave do álbum e, embora geralmente seja supersônica, em certos momentos as rotações são baixadas repentinamente, saboreando a chicotada causada pela rapidez da mudança. Não são ocorrências isoladas: reviravoltas repentinas prevalecem no álbum. Os sons entram e saem da frequência, como se este fosse um projeto concebido a partir de interferências, como uma superposição de pesadelos consecutivos. Salome Lagares (Mondo Sonoro)
72 Seasons – Metallica
72 estações tende a referir-se à maturidade. O Metallica já alcançou esta fase há muito tempo. E este disco é uma expressão diacrônica da construção desta experiência. Para isso, explora em minúcias, as diversas facetas da banda ao longo de 42 anos em uma extensão de 77 minutos. Antes de lançar o disco duplo, a banda emplacou o single “Lux Eterna”, que remete ao thrash da origem, mas há pegadas diversas que fortemente lembram músicas clássicas, como “Shadows Follow”, que caberia facilmente em “Ride the Lightning” ou “Sleepwalk my Life Away”, com linhas adaptáveis ao “Hardwired… to Self-Destruct”, ou “You Must Burn”, ao “Black Album”. Este trabalho nasce com a vitalidade comprovada do Metallica, referência do metal que não precisava provar mais nada a ninguém. William Robson (BDD)
Sonas Sessions – Tianastácia
O melhor álbum que eu ouvi neste ano de 2023 não é exatamente um álbum de inéditas. Trata-se do “Tianastácia (Sonas Sessions)”, um ao vivaço gravado pela banda homônima no estúdio mineiro Sonastério. O disco traz o rock cru da Tianastácia, com uma pegada eclética e visceral de músicas que fizeram sucesso com a banda, como “Cabrobró”, ou através de outros artistas, como “O Sol” – gravada e eternizada na interpretação do Jota Quest – ou ainda a recente “Miriam”. O álbum tem apenas 7 músicas, mas vem carregado de uma energia forte e pulsante, com destaque para a vibrante “Pode Crer” que abre a sequência e a já citada “Miriam”, uma baladinha suingada que gruda infalivelmente na mente de quem a ouve. Assis Neto, músico e produtor (Côco Lôco Produções)
The Love Still Held Me Near – City and Colour
O sexto álbum de estúdio de Dallas Green como City and Colour é mais que um disco, mais que uma coleção de músicas.”The Love Still Held Me Near” é uma jornada: uma história de dor e cura que começa com angústia e desesperança e termina com um vislumbre de dias melhores. O álbum veio como resultado da perda do seu melhor amigo Karl Bareham no final de 2019 e com o luto que teve que ser vivido na pandemia. O luto e a perda que Dallas Green sente é evidente em cada letra, sua dor pode ser relatada por qualquer pessoa que já passou por uma tragédia. O cantor e compositor se relaciona com as angústias que se seguem e a busca por respostas. As músicas refletem sobre o eterno dilema de como vivemos quando sabemos que temos uma sentença de morte pairando sobre nossas cabeças. Em seu trabalho solo, Dallas Green nunca se afasta de tocar as cordas de seu violão e mostrar seus vocais, uma característica única marcada especialmente pelo timbre único de sua voz, e que tem funcionado muito bem para ele desde sua primeira incursão fora do Alexisonfire. Cada lançamento parece um olhar íntimo na alma de Dallas, mas “The Love Still Held Me Near” parece de longe o mais pessoal e cru e sonoramente o álbum se baseia em muitos dos motivos musicais utilizados em seu lançamento de 2019, “A Pill for Loneliness”, mas também difere porque desta vez, mais do que em qualquer um de seus outros álbuns, os seus vocais fazem um trabalho pesado, já que ele está na frente e no centro da gravação acompanhado por texturas e arranjos incríveis que antes eram inexplorados em seu trabalho solo. Jean Lone, músico e produtor
Weathervanes – Jason Isbell & The 400 Unit
Um álbum que, apesar de manter intacta a essência do know-how composicional de Jason Isbell , apresenta novidades. Ele mesmo se encarregou da produção e deu destaque aos seus músicos para tornar as músicas mais próximas do que são ao vivo. Ele continua a manter aquele “toque” confessional característico que toca tão favoravelmente em suas músicas. Puro prazer. David Sabate (Mondo Sonoro)
World Music Radio – Jon Batiste
Duke Ellington, Quincy Jones, Stevie Wonder, Prince e, agora, Jon Batiste. Exagerado? Bem, o tempo dará ou tirará razões. No geral, Jon tem apenas 36 anos e já traz na bolsa um currículo extenso e imaculado, cheio de grandes prêmios. Música popular feita com a sabedoria de quem estudou música até as sobrancelhas arderem. Inspirados naquelas ondas sonoras que viajam pelo espaço e que foram descobertas há alguns anos, sem que ninguém soubesse muito bem de onde vêm, “World Music Radio” é uma viagem musical por diferentes estilos que vão do R’N’B ao soul, passando pelo rap, gospel, swing, funk e, claro, jazz. Tudo isto graças a uma infinidade de colaborações com pessoas tão diversas como Lil Wayne, Lana del Rey ou a catalã Rita Payés. Jon Batiste conseguiu colocar toda a sua inteligência musical a serviço de um conceito: demonstrar que a música é a linguagem artística que mais e melhor pode destruir todos aquelas barreiras que nos separam como humanos. Don Disturbios (Mondo Sonoro)
Xande Canta Caetano – Xande de Pilares
Geralmente meus “álbuns do ano” são do gênero pop rock, seja nacional ou internacional, posto que cresci musicalmente com este estilo que faz a minha cabeça até hoje. Qual a minha surpresa (para mim mesmo) ao perceber que a regravação em feitio de homenagem do ícone do pagode e do samba carioca Xande de Pilares, que alterna belos trabalhos com escorregadas, ao gênio baiano acabou sendo o que mais apreciei neste ano de 2023. Na verdade, Xande deu um nó nos críticos e céticos, apresentando um álbum sólido, lírico, de repertório escolhido a dedo e que emocionou às lágrimas o próprio Caetano. Tudo funciona, mas as versões de “Alegria, Alegria” e “Qualquer Coisa” são excepcionais. Cefas Carvalho (Agência Saiba Mais)