Everybody Scream – Florence Welch
Gravadora: Universal Music
COTAÇÃO: ★★★★☆ (ÓTIMO)
Que Florence Welch lance seu novo disco no mesmo dia em que se celebra o Halloween pode parecer uma coincidência. Mas estamos certos de que não é. As circunstâncias e a temática de Everybody Scream nos levam a crer que há intenção nisso: aqui se fala de antigas crenças, bruxaria, magia e espiritualidade.
O ponto de partida do álbum nasce de uma experiência profundamente dolorosa da própria Florence — uma gravidez que se complica e a obriga a uma cirurgia de emergência para salvar sua vida. Nunca antes a artista havia estado tão próxima da morte. A partir desse trauma, ela reflete sobre as circunstâncias e as consequências do ocorrido, chegando à conclusão de que se sentia realmente muito só. Até a própria indústria musical pareceu deixá-la de lado, sem o apoio necessário naqueles dias. Por isso, este disco é, ao mesmo tempo, uma revelação e um grito libertador. Em certo sentido, Florence transforma tudo isso em combustível para erguer as canções do álbum — faixas que transitam entre místicas medievais, cultura pop (com referências a Buffy, a Caça-Vampiros), pesquisas acadêmicas e o arquétipo da curandeira.
No campo musical, além da própria Florence na produção, Everybody Scream reúne nomes de peso: o onipresente James Ford, o produtor eletrônico Danny L. Harle, Aaron Dessner (The National), Mark Bowen (Idles), Mitski e Dave Bayley (Glass Animals). Em comparação com Dance Fever (2022), a dança ficou em segundo plano. Aqui, o que domina é a emoção bruta — um disco mais sentido e visceral. Os clipes dirigidos por Autumn de Wilde, sempre belos e simbólicos, já davam pistas desse universo. Mas, ao abrir a caixa de Pandora, há muito mais do que as imagens revelam.
Everybody Scream é uma explosão de sensações que cavalga entre a euforia e o desespero. Como de costume, Florence nos conduz pela épica (“One of the Greats”), mas também pela experimentação (“With Dance”), desenhando o horror com percussões intensas (“Sympathy Magic”) ou alcançando momentos de paz e beleza angelical (“Buckle”). E há muito mais: dos sussurros que se transformam em um grande coro em “Kraken” à crítica ao patriarcado na indústria musical em “Music By Men”, passando por uma ode ao luto (“Drink Deep”) e atmosferas de mistério (“You Can Have It All”) — esta última trazendo de volta uma Florence mais reconhecível, teatral e poderosa.
Apesar de toda essa diversidade, Everybody Scream é um álbum coeso e afirmativo. Longe das surpresas dos primeiros discos, ele mantém Florence Welch num território em que ela se sente confortável — ainda que essa zona de conforto seja construída à base de rebeldia, dor e a insistência em reivindicar o que é seu.
